SERVO DE TODOS

By

Reflexão à Liturgia da Palavra d0 XXV Domingo do Tempo Comum, ano B

A Liturgia da Palavra deste Domingo convida-nos a meditar sobre a verdadeira sabedoria e humildade que devem guiar as nossas vidas como seguidores de Jesus Cristo. Somos chamados a reconhecer que a grandeza no Reino de Deus reside no serviço desinteressado e no amor ao próximo.
A cruz de Jesus Cristo é difícil e por isso vai-se descobrindo aos poucos. “O Filho do homem vai ser entregue nas mãos dos homens; hão-de matá-l’O, mas Ele, três dias depois, ressuscitará”. O título de “Filho do homem” (Dan 7,13), de que Jesus se apropria, é título messiânico ligado ao título de “Servo de Deus” (Is 53,10 sgs), que vem salvar pelo sofrimento. Cruz e ressurreição aparecem inseparáveis no anúncio de Jesus Cristo. Cruz sem ressurreição não tem sentido, nem para Jesus Cristo nem para o homem.
A primeira leitura, do livro da Sabedoria 2, 12.17-20, convida-nos à reflexão sobre a justiça, a perseverança na fé e a confiança na protecção divina,especialmente nestes tempos de tribulação.
“O Senhor sustenta a minha vida”, é o refrão do salmo 53 (54) 3-4. 5.6.7.8., que a Liturgia propõe para Salmo Responsorial. O Salmo clama pela ajuda de Deus contra os inimigos. Enfatiza a confiança na protecção divina e a certeza de que Deus é o libertador dos justos e a recompensa e fidelidade dos seus filhos.
Na segunda leitura continuamos a ler, a escutar e a meditar na Epístola de S. Tiago, hoje Tiago 3, 16-4,3. Neste trecho da sua carta, S. Tiago adverte contra a inveja e a ambição, causas de desordem e conflitos. Encoraja a busca pela sabedoria divina, que é pura e pacífica, e destaca a importância de pedir com rectidão para receber.
O Evangelho ensina-nos o valor da humildade e do Serviço. Jesus prediz a Sua paixão e ressurreição e instrui os discípulos que o maior no Reino de Deus é aquele que serve. “Quem quiser ser o maior”, refere Jesus na passagem evangélica deste Domingo, do Evangelho segundo S. Marcos 9, 29-36. Jesus Cristo fala da cruz, a suprema humilhação e os discípulos discutem sobre os primeiros lugares. Que contraste! É a figura triste que fazemos todos. Na incompreensão e insensibilidade de agora, começa o horto e o Calvário. Em resposta às exigências da cruz, respondemos com egoísmos e buscas de grandeza. Bate-nos à porta a cruz de Jesus Cristo com o seu séquito de humilhações e sofrimentos e logo nos distraímos, iludindo a resposta com zelos amorosos e grandezas terrenas. Os primeiros lugares, excelências e poderios, são tentação dos “perfeitos” que mancham o serviço de mandar, com direitos e pretensões.
“Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos”, diz Jesus. Eis a resposta para as nossas ambições de pretendentes, o caminho certo para ser o maior no Reino. “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir”. Se lhe chamamos Mestre, é aprendermos a lição. Com palavras de vida; Jesus veio dar-nos uma nova perspectiva de valores e lugares. Não há lugares, altos ou baixos, mas a justa dimensão, que nos define e situa diante de Deus e diante dos homens. A importância do lugar está em ocupá-lo bem. Não é o lugar que me eleva a mim, mas eu que elevo o lugar. O meu lugar é Jesus Cristo. Onde Ele estiver, quero eu estar também.
No Reino de Jesus Cristo todos podem ser primeiros e o maior. Somos um povo de reis. Jesus Cristo não quer que eu seja o servo e o último, mas aponta-nos o caminho para ser Senhor e primeiro. O cristão foi sagrado para uma nova nobreza, onde o servo é senhor e a humildade rainha.
“E tomando uma criança colocou-a no meio deles”, conclui o Evangelho. A criança é expressão de fragilidade, figura do que não tem importância. No seu gesto acolhedor, Jesus Cristo quer abraçar todos os pobres e pequeninos. Os grandes no Reino dos Céus são os pobres e os humildes, os primeiros a quem chega a Boa Nova, porque mais atentos e disponíveis para servir e amar. Jesus convida-nos a acolher os mais pequeninos, se queremos reinar com Ele. Acolher significa aceitar, compreender, amar. Quando alguém se aproxima, é o Senhor que vem em disfarces de amor, convidando para tronos e para festas.
A resposta é clara. Fica aberta a porta que dá para as grandezas, revelando o caminho que leva à glória. Quem quer entrar?
Quem mais acolher Jesus Cristo, esse será o maior.
A Bem-aventurada Virgem Santa Maria, humilde serva do Senhor, nos ajude a compreender que servir não nos diminui, mas faz-nos crescer e que há mais alegria em dar do que em receber. (Actos dos Apóstolos 20, 35)

Diácono António Figueiredo