ABRE-TE

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Reflexão à Liturgia das Palavra do XXIII Domingo do Tempo Comum Ano B

A Liturgia da Palavra deste XXIII Domingo do Tempo Comum, Ano B, apresenta-nos a vitória definitiva de Deus, que liberta o povo hebreu do cativeiro da Babilónia e o conduz à sua terra, na Palestina. Os cegos recuperam a vista, os surdos voltam a ouvir, os coxos saltam como veados e os mudos cantam cheios de alegria. O profeta Isaías apresenta a vida nova e transformadora que Deus oferece ao seu povo.
Perante os males do mundo não é fácil ser optimista. Gritos de dor e limitações humanas ensombram-nos a alma, esperando a salvação. A Liturgia da Palavra deste Domingo, traz-nos um grito de esperança e aponta-nos a salvação esperada. “Tende coragem. Não vos assusteis”. Já vem de longe o problema; já vem de longe a solução. “É o próprio Deus que vem salvar-nos. (1.ª leitura)
“Então se desimpederão os ouvidos dos surdos e a língua do mudo cantará de alegria”, diz a primeira leitura de Isaías 35, 4-7a. O profeta Isaías anuncia a hora da libertação do povo de Israel, após longo exílio na cidade de Babilónia. Jesus mostrou com os seus milagres a realização plena das promessas anunciadas pelo profeta.
“Ó minha alma louva o Senhor” é o refrão do Salmo Responsorial, que a liturgia propõe para este Domingo o salmo 145 (146),76.8-9a.9bc-10. Após Jesus ter curado um homem surdo, os presentes davam graças a Deus, dizendo: “Jesus faz com que os surdos oiçam e com que os mudos falem. Louvemos o nosso Deus que ilumina os olhos dos cegos, abre os ouvidos aos surdos, levanta os oprimidos e protege os peregrinos.. Glória, honra e louvor a Jesus. Nosso Rei e Senhor, hoje e sempre e pelos séculos dos séculos”.
“Não escolheu Deus os pobres para serem herdeiros do Reino?” Interroga S. Tiago na segunda leitura, Epístola de S. Tiago 2, 1-5. Deus não faz acepção de pessoas, porque é benevolente para com todos, ricos ou pobres.
“Abre-te”, ordena Jesus na passagem evangélica de S. Marcos 7, 31-37 A Palavra do Senhor não se dirigiu ao órgão deficiente, mas ao homem todo. Somos nós que temos de abrir-nos à salvação que nos bate à porta. Jesus não força, mas convida. As portas para a salvação abrem-se por dentro; não se abrem por fora. Abrir-se é aceitar o Salvador e escutar a Sua voz que nos fala na palavra reveladora e no segredo do coração. Abre-se o homem todo à iniciativa de Deus, removendo obstáculos para que Ele realize a sua obra. Não há zonas interditas, coutos cerrados onde a graça libertadora não entre.
“Abriram-se os ouvidos”, refere o Evangelho. Há um nexo íntimo e natural entre a escuta da palavra e a vivência da fé. A fé funda-se na Palavra de Deus, que nos falou por Jesus Cristo e nela se alimenta e robustece. “A fé vem da pregação e a pregação é pela palavra de Cristo. (S. Paulo aos Romanos 10,17). A fé de muitos cristãos definha, porque há falta de doutrina e de escuta da Palavra. Como poderão acreditar naquilo que não ouviram? Só animados duma fé viva, poderemos corrigir as obras mortas e falar correctamente a linguagem do amor e da verdade.
“Tocou-lhe a língua”, diz o Evangelho. O Senhor actua através de gestos e sinais sensíveis, por onde nos transmite a sua graça. O esplendor do divino oculta-se em névoas de aparências para curar sem ferir, atrair sem ofuscar. As nossas relações com Deus são sempre sacramentais. Fala-nos nas coisas, pessoas e acontecimentos e realiza maravilhas que se ocultam aos nossos olhos. No símbolo que se toca conhecemos a realidade., Os sacramentos são o rosto visível de Jesus Cristo, convivendo entre os homens, adorável presença que nos convida e atrai. É ver Deus sem morrer. Pelos sacramentos, Jesus de Nazaré faz-se contemporâneo de todos os homens, companheiro do mesmo destino e continua no mundo a sua acção redentora..
“Tudo o que faz é admirável”, diz a multidão referindo-se a Jesus. Foi sempre assim. É o estilo de Deus. Ao terminar a obra da criação, “viu Deus o que tinha feito e era tudo muito bom”. (Génesis 1,31). Tudo acontece por amor. Tudo converge para o amor e glória do Pai. O êxtase criador do princípio ressoa no grito da multidão e chega até nós, confirmando-nos em optimismo e esperança.
A cura do surdo-gago anuncia um mundo novo, onde o homem será liberto das suas limitações. Com a multidão entusiasmada apregoemos Jesus Cristo libertador, que veio restaurar os nossos corpos à imagem do seu Corpo glorioso. No cortejo de Jesus Cristo não entram surdos nem gagos. Se queres tomar parte n’Ele põe-te à escuta e fala correctamente.
A Bem-aventurada Virgem Santa Maria sustente o nosso propósito de fazer comunhão com Jesus Cristo, alimentando-nos da Sua Eucaristia, para nos tornarmos, por nossa vez, pão partido para os irmãos.

Diácono António Figueiredo