
Reflexão à Liturgia da Palavra do XXII Domingo do Tempo Comum Ano B
Neste Domingo a Palavra do Senhor desperta-nos para o cumprimento da Lei de Deus. A Lei é a expressão da Aliança, a declaração do amor de Deus ao homem e à mulher, exigindo resposta. Cumprir a Lei é prova de sabedoria, testemunho de grandeza. Contém o projecto de Deus em nós, caminho da felicidade e de realização humana e sobrenatural. Jesus Cristo não veio suprimir a Lei, mas cumpri-la e aperfeiçoá-la.
Em que consiste a verdadeira religião? A Liturgia da Palavra deste Domingo fala-nos do culto agradável a Deus nosso Pai. Moisés convida o povo a cumprir fielmente os Mandamentos do Decálogo. Jesus ensina que a Palavra da Sagrada Escritura está acima das tradições humanas. S. Tiago ensina que a religião pura e sem mancha, consiste em visitar os órfãos e as viúvas.
«Guardareis os Mandamentos do Senhor» diz a primeira leitura, do Livro do Deuteronómio 4, 1-2.6-8. Moisés recorda ao Povo de Israel que é necessário observar a Lei de Deus, que supera em perfeição, as leis dos outros povos vizinhos. O fiel cumprimento dos dez mandamentos oferece aos homens e mulheres o caminho da prudência e da verdadeira sabedoria.
«Quem habitará Senhor no vosso santuário?», é o refrão do Salmo Responsorial, que a liturgia propõe para este Domingo o salmo 14 (15) 2-3a.3cd-4ab.5. O salmo 14 faz parte da liturgia da entrada no santuário. Está escrito em forma de diálogo. O salmista, talvez um peregrino, pergunta: “Quem habitará Senhor no vosso Santuário?” Um sacerdote, ou um levita responde, enumerando as condições: viver sem mancha, praticar a justiça, dizer a verdade.
«Sede cumpridores da Palavra», diz-nos a segunda leitura, Epístola de S. Tiago 17-18.21b-22.27. Na sua Carta, S. Tiago ensina-nos como devemos responder às exigências da Lei. Não basta saber o Evangelho; é preciso convertê-lo em vida. “Acolhei docilmente a Palavra semeada em vós e que pode salvar as vossas vidas”. Temos de ser a terra boa, onde a Palavra do Senhor enraíza e cresce. É a palavra que nos salva. Mas para isso é preciso aceitá-la humildemente e pô-la em prática como expressão de vida no amor.
A Palavra de Deus é amor Quem ama cumpre a Sua Palavra e vive a plenitude da Lei. Os que se aproximam dos pobres e dos humildes e se compadecem de todos os atribulados, são os cumpridores da Palavra que agradam aos olhos de Deus. A religião pura e sem mancha está em amar os pequeninos e necessitados, com um coração limpo de orgulhos e de apegos desordenados.
«Este povo honra-Me com os lábios, mas o seu coração está bem longe de Mim» – desabafa Jesus no Evangelho deste Domingo, S. Marcos 7, 1-8.14-15.21-23. O problema é grave. Por isso Jesus o denuncia. Escribas e fariseus descuram o mandamento de Deus, para se agarrarem a observâncias exteriores e tradições humanas. Confundem o absoluto com o relativo, põem no mesmo plano o essencial e o acessório. Fizeram da Lei do Amor um jugo insuportável, eriçado de preceitos, pondo a perfeição em ritos e observâncias, o mais fácil, para serem vistos nas praças e nas sinagogas.
«Tratai de compreender» – alerta Jesus. O perigo farisaico é ameaça constante na Igreja de hoje e de sempre. Há muita vida cristã ainda envolta em hábitos judaizantes. O farisaísmo consiste em absolutizar valores temporais e transitórios , estabelecendo o primado da letra sobre o espírito. É o mundo da mediocridade e da hipocrisia posto no candelabro. Em nome de costumes e letras falta-se à lei essencial da caridade e mata-se o amor. A pureza de coração, que se invoca, não se faz de medos e observâncias , mas da rejeição de todo o egoísmo e hipocrisia, orgulhos e friezas nas relações fraternas. Pureza do coração não é fuga ao amor, mas amar mais e melhor em oblação de nós mesmos.
Mas o Evangelho não está encadeado pelo jugo farisaico de leis e estruturas. O cristão move-se na liberdade que Jesus Cristo nos conquistou. Somos filhos da divina inquietude e inconformismo, que anatematizou escribas e fariseus que “fez o sábado para o homem e não o homem para o sábado”.
«A letra mata, mas o espírito dá vida» -afirma S. Paulo na segunda Epístola aos Coríntios 3,6.
A Bem-aventura Virgem Santa Maria que mudou a história através da pureza do seu coração nos ajude a purificar o nosso, superando sobretudo o vício de culpar os outros e de nos queixarmos de tudo.


