ESPERAR

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Reflexão à Liturgia da Palavra do XI Domingo do Tempo Comum Ano B

Quando se fala sobre a situação do mundo, aqueles e aquelas que têm uma certa preocupação de que as coisas melhorem, caem por vezes num pessimismo de desânimo profundo, dizendo: “Não há nada a fazer! Está tudo perdido!”.
Este pessimismo é uma arma perigosa do demónio, porque nos leva a cruzar os braços e a nada fazer para melhorar as coisas. A Liturgia da Palavra deste XI Domingo do Tempo Comum, Ano B, é uma proclamação de esperança e optimismo, que nascem da fé e da confiança em Deus. É indispensável que cada um de nós faça o que está ao seu alcance para melhorar o mundo e depois confie inteiramente na Omnipotência e Bondade infinita de Deus, nosso Pai do Céu.
Esperar é o nosso ofício de seres humanos, homens e mulheres, o nosso viver e sonhar, o outro lado das coisas e da vida. É difícil esperar, porque é difícil ser pessoa. Esperar é peregrinar por desertos , exilados de nós mesmos e das nossas frágeis seguranças, ao encontro de promessas invisíveis, como o Povo da Aliança. Custa sedes e cansaços , lutas e recomeços, mas o fim é a redenção.
Com uma parábola cheia de beleza, nos tempos conturbados do exílio de Babilónia, o profeta Ezequiel procura chamar à esperança o Povo de Deus. E como a Palavra de Deus é sempre viva e actual, este chamamento à esperança é também para nós. A primeira leitura é de Ezequiel 17,22-24.
O Salmo divinamente inspirado que nos é proposto, como resposta à interpelação do profeta Ezequiel na primeira leitura, convida-nos a olhar a vida com esperança. “É bom louvar-Vos Senhor” é o refrão do salmo 91 (92) 2-3.13-14.15-16, que a Liturgia propõe para Salmo Responsorial. Nunca nos esqueçamos, sobretudo nos momentos mais sombrios de que temos no Céu a velar por nós, o melhor dos pais.
S. Paulo na segunda leitura, convida-nos a vivermos cheios de confiança em Deus na sua Segunda Carta aos fiéis da Igreja de Corinto. Levantemos o olhar para o Céu, onde Jesus foi preparar-nos um lugar para comungarmos eternamente da Sua felicidade. A segunda leitura é da Segunda Epístola de S. Paulo aos Coríntios 5, 6-10.
Deus nosso Senhor não se cansa de lançar dentro de nós a semente da Sua Palavra, para que germine e dê frutos de boas obras na nossa vida. Acolhamo-la uma vez mais, com grande alegria. “O Reino de Deus é como um homem que lançou a semente à Terra” diz Jesus na passagem evangélica deste Domingo, S. Marcos 4, 26-34.
Esperar é a força do cristão, fundada em Jesus Cristo Redentor, autor e guia da nossa fé. Na esperança, já vivemos ressuscitados. Pela esperança é que fomos salvos.
Esperar é vida nova , fermento novo, pressa de ir dizer aos outros que o essencial é amar. Deita fora o fermento velho de egoísmos e rancores e abre-te ao sabor de Jesus Cristo..
Esperar é saltar o muro de sinais e aparências, para habitarmos junto do Senhor, refere a segunda leitura. De lá nos vem a esperança que não confunde, porque traz a força de Deus.
Esperar é o gesto filial de abandono e confiança no Coração do Pai, sabendo que Ele é tudo e está em todas as coisas. Os caminhos da esperança são subterrâneos, sempre a direito, na mesma direcção.
Esperar é o dinamismo da graça, silêncio do grão de trigo que germina em promessas de seara abundante. Na esperança dos segadores é que o pão se multiplica e o Reino cresce.
Esperar é a veste nupcial, que nos introduz a celebrar a festa no Reino que há-de vir. Pela esperança inconfundível somos os profetas do novo mundo.
Esperar é a força indomável das coisas pequeninas , que por isso se tornam grandes como o grão de mostarda. A esperança engrandece e transfigura tudo aquilo que vier abrigar-se à sua sombra. (V. 32b do Evangelho).
Esperar é ir de companhia revestir-se de Jesus Cristo, princípio e fim, o caminho e a porta. Caminhar na esperança de Jesus Cristo, é já chegar ao termo, à outra margem das coisas e da vida.
Esperar é ser livre , mover-.se na expectativa do Senhor que não tarda, armar a tenda na praça, atento e disponível. A esperança nos liberta de medos e incertezas, abrindo-nos o coração às iniciativas da graça.
Esperar é a virtude dos fortes, dos adultos e responsáveis, que entram na luta já vencedores,. Pela esperança teologal tudo posso e quando sou fraco, é então que sou forte. (2.ª Epístola de S. Paulo aos Coríntios 12,10).
Esperar é a bem-aventurança dos humildes, daqueles que acreditam nas suas mãos vazias e põem a felicidade mais em dar do que em receber, mais em construir a paz do que viver em paz, mais em amar do que em ser amado.
Quem assim esperar, já leva em si o Reino de Deus a crescer. A esperança já é posse. O melhor do encontro é a busca.
A Bem-aventurada Virgem Santa Maria nos ajude a ser simples, a estar atentos, a fim de colaborarmos com a nossa fé e com o nosso trabalho no desenvolvimento do Reino de Deus nos corações e na história. Com Ela saibamos esperar na “Esperança”.

Diácono António Figueiredo