
Reflexão à Liturgia da Palavra do X Domingo do Tempo Comum ano B
Como seres inteligentes que somos, queremos optar e seguir pelos caminhos mais acertados da nossa existência. O mesmo deseja nosso Pai do Céu. Para que tal aconteça é necessário não nos deixarmos enganar nos caminhos da vida. Precisámos de ser iluminados pelo Evangelho, onde se encontram os conselhos do melhor dos pais, que além de ser infinitamente bom é também omnipotente , misericordioso e sábio. Só com o seu sustento, teremos a clarividência e as forças necessárias e suficientes para vencer os caminhos do erro e assim pertencer à verdadeira Família de Deus. Eis o motivo pelo qual nos reunimos em cada Domino para a celebração da Eucaristia..
O ser humano cedeu à sedução do mal, mas com as armas de Jesus Cristo triunfou do inimigo. Rejeitando o velho fermento da malícia e da corrupção ressuscitámos com Jesus Cristo para uma via nova.
Deus fez tudo muito bem. O ser humano, embriagado pela sua auto-suficiência, cometeu no erro de fazer escolhas arbitrárias, afastando-se do Senhor, arruinando-se no pecado. Esta derrota não foi definitiva, pois Deus na Sua Bondade infinita anunciou que Alguém, da descendência da mulher, havia de esmagar a cabeça da serpente enganadora.“Estabelecerei inimizade entre ti e a mulher”, (V. 19b) do livro do Génesis 3, 9-15.20 que é a primeira leitura da Liturgia da Palavra deste Domingo. Desde o princípio que a luta se desencadeou e a vitória nos foi assegurada. A maldição pronunciada sobre a serpente revela-nos o projecto maravilhoso da salvação de Deus, onde há uma luta instituída com tentações e fracassos, mas tudo termina em vitória . Foi por Jesus Cristo que nos veio o triunfo libertador. Ele é a “descendência da mulher” que esmaga as forças do mal. O reino de Satanás chegou ao fim, porque o “homem forte” que o detinha , foi amarrado por Jesus Cristo. No triunfo de Jesus Cristo, “descendência” de Maria, a nova Eva, deu-se o reencontro final e decisivo da inimizade declarada no Paraíso.
“No Senhor está a misericórdia e abundante redenção” ou “No Senhor está a misericórdia, no Senhor está a plenitude da redenção”. Refrão à escolha para o Salmo Responsorial, que a Liturgia propõe o salmo 129 (130), 1-2.3-44ab.4c.-6.7-8. Este salmo lembra-nos a misericórdia de Deus, ensina-nos a reconhecer as nossas misérias e a clamar cheios de confiança e humildade “No Senhor está a misericórdia e a abundante Redenção”.
Apesar das dificuldades físicas que S. Paulo sente, tem consciência que “a ligeira aflição dum momento prepara-nos, para além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória”. É esta a certeza que nos deve animar a todos.. “Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus, também nos há-de ressuscitar com Jesus”, refere a segunda leitura da segunda Epístola de S. Paulo aos Coríntios, 4, 13-5,1. O facto da ressurreição é o momento culminante da vitória de Jesus Cristo sobre o Demónio e sobre o mal. Com a Sua morte e ressurreição,. Jesus Cristo venceu o Demónio na árvore da cruz, outrora vencedor na árvore do Paraíso. O bem venceu o mal e o amor triunfou do egoísmo e da injustiça. Mas Jesus Cristo ressuscitou para nós. N’Ele já somos vencedores . Através de lutas e sofrimentos, fazemos nossa a vitória de Jesus Cristo e partilhamos da mesma herança. Na luta de cada dia renova-se a fé e a esperança, alimento da vida eterna. Vale a pena. Não têm comparação os sofrimentos deste mundo com as alegrias e gozos que o Senhor nos prepara. Tudo é leve e passageiro, comparado com o peso eterno da glória, que Deus nos promete e assegura. A nossa certeza radica na fé e na esperança, no esforço humilde de cair e levantar-se, de recomeçar todos dos dias.
Não nos deixemos enganar pelas seduções do demónio. Confiemos inteiramente no Senhor. Só Ele é o nosso Salvador. “Tua Mãe e teus irmãos estão lá fora à Tua procura” (V. 32b) do Evangelho de S. Marcos 3, 20-35. Jesus expulsa demónios. Está ali a Sua Mãe. Forma com Ele a mesma inimizade e luta contra o mal. Por isso Maria está ali presente. É o Seu lugar certo a História da Salvação. Desde a Encarnação ao Calvário, aceitando e oferecendo, torna-se solidária com o seu Filho na mesma luta e triunfo. O “sim”da Anunciação desencadeou a batalha, atacando o inimigo no seu reduto de orgulho e rebelião. Fazer a vontade de Deus é a vitoria clamorosa de Maria que “derruba os poderosos de seus tronos e exalta s humildes.” Mas a Mãe de Jesus continua presente na luta da Igreja e do cristão. Quando a Igreja e o cristão entram em crise, logo surge em defesa a “torre de David”, a mulher forte. Na hora exacta, hora de angústia e incerteza, a “Mãe da Igreja” aparece. “Está ali Tua Mãe”.
“Quem são Minha Mãe e Meus irmãos?”, pergunta Jesus. Aqueles e aquelas que fizerem a vontade de Deus. Há entre eles, elas e Jesus um vínculo mais estreito, uma comunhão mais íntima do que laços de sangue e parentesco. Pela fé e pelo amor, aceitando a vontade do Pai e o Seu plano salvífico, geramos Jesus Cristo em nós e nos outros,. A família cristã é a família de Jesus Cristo, porque reconheceu n’Ele o Enviado do Pai e o Seu poder Salvador. Os escribas, pelo contrário, acusam o Enviado e recusam a salvação. Por isso pecam contra o Espírito Santo, porque pecam contra a Luz, fechando os olhos à evidência de Jesus Cristo.
O cristão é aquele que “está fora de si”. Na loucura de “dar-se a Deus e aos outros”, fazendo a vontade do Pai, encontrou o equilíbrio de discernir, a ciência de viver. Sair fora de mim, rompendo orgulhos e egoísmos é a sabedoria que liberta e convence o mundo. A Bem-aventurada Virgem Santa Maria nos ajude a viver sempre em comunhão com Jesus Cristo, reconhecendo a obra do Espírito Santo que age n’Ele e na Igreja, regenerando o mundo para uma vida nova.


