O SÁBADO PARA O HOMEM

By

Reflexão à Liturgia da Palavra do IX Domingo do Tempo Comum, Ano B

Tu és o bem maior, a pedra preciosa pela qual vale a pena dar tudo. O projecto que Deus tem, passa pelo ser humano, criado à Sua imagem e semelhança, como medida a seguir e meta a alcançar. A glória de Deus é o ser humano.

Para o Antigo Testamento, o sábado é um dia que pelo descanso, deve ser lembrado e diferenciado de todos os outros dias. A Lei prescreve-o, desde os códigos mais antigos até aos mais recentes: o decálogo nas suas duas versões (Êxodo 20, 8-11, Deuteronómio 5, 12-15); o código cultual (Êxodo 34,21); o código da Aliança (Êxodo 23,21) e a Lei sacerdotal. Além da prescrição sabática, os vários textos também apresentam motivações teológicas e antropológicas (1.ª leitura). Jesus no Evangelho reencontra o verdadeiro sentido do descanso sabático, totalmente esquecido no ensinamento do Seu tempo. À contestação dos hipócritas que alienam as pessoas, com preceitos e ritos, Jesus opõe a liberdade de David. 

“Guarda o dia de sábado, para o santificares, como te mandou o Senhor, teu Deus”. Assim começa a primeira leitura – Deuteronómio 5, 12-15. O sábado era e é para os judeus, o grande dia, a Páscoa semanal. Nele se celebrava e ainda hoje se celebra, o memorial da Aliança de Deus com o Seu povo e o poder soberano, acima das realidades terrenas. Para os cristãos, o Domingo é o Dia do Senhor, memorial da Sua Ressurreição. A vítima pascal da libertação transformou-se, para nós, em Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo. Em cada Domingo celebramos a nova Páscoa da nova Lei, actuando e completando a nossa ressurreição. Na Eucaristia se concentra toda a festa, porque nela revivemos e actualizamos a Morte e Ressurreição do Senhor. Porque fomos libertados em Jesus Cristo, Ele tem agora em tudo o primeiro lugar. D’Ele é o trabalho e o descanso, a vida e a morte. Num mundo de pressas, o importante é parar. Em suplemento à matéria, sobe para Deus o louvor e a adoração.

Para Salmo Responsorial, a Liturgia propõe o salmo 80 (81) 3-4.5-6ab.6c.8a.10-11b. Trata-se de um salmo de aclamação e louvor.

Na segunda Epístola de S. Paulo aos Coríntios 4, 6-11, (2.ª leitura), o Apóstolo afirma que “nós trazemos em vasos de barro o tesouro do nosso ministério, para que se reconheça que um poder tão sublime vem de Deus e não de nós”. Este trecho da segunda Epístola aos Coríntios, provavelmente faça parte de um bilhete que o Apóstolo escreveu, como conclusão de um período crítico nas suas relações com os fiéis de Corinto. Nesta carta, que transborda de expressões afectuosas e confidenciais, S. Paulo expõe a sua visão da missão apostólica: um tesouro trazido em vasos de barro, uma mistura de sublime grandeza e de fraqueza, de glória e de humilhações, de vida e de morte. Todos estes contrastes encontram a sua justificação em Jesus Cristo ressuscitado, que é também Ele um mistério de morte e vida nova”: “Somos entregues à morte a toda a hora por causa de Jesus a fim de que também a vida de Jesus se manifeste na nossa carne mortal”.

Na passagem evangélica a ser proclamada neste Domingo, Evangelho de S. Marcos 2, 23-36, Jesus Cristo reconfirma o sentido humanitário da prescrição sabática, proclamando que “o sábado é para o homem e não o homem para o sábado”. É a resposta aos fariseus de todos os tempos. O homem é mais importante do que as leis. A dignidade do homem supera todas as leis e preceitos positivos e a nada se subordina, porque leva o selo de Deus. A lei é para o homem, ao serviço da sua glória e destino inviolável. Contudo, haverá sempre fariseus que resistem, agarrados a observâncias, fantasmas de si mesmos. Há um cristianismo de fórmulas vazias em oposição ao verdadeiro culto em espírito e verdade. Muitos observam regras e ritos para serem vistos pelos homens. À falta de amor refugiam-se em rigorismos e intransigências. Não há oposição entre espírito e letra, mas subordinação e hierarquia a um mesmo destino e grandeza. Entre a letra e o espírito, o primeiro é o homem. A lei suprema consiste na discreta caridade, amor que investiga e tem a última palavra.

“Estende a mão”. Diz Jesus. Só seremos curados quando estendermos a mão para Deus e para os outros. Não bastam actos de culto externo, mas temos de empenhar o homem todo na experiência da fé que leva à vida. O culto que agrada ao Pai é o que leva ao serviço dos irmãos. Não se esgota na Eucaristia toda a realidade do Dia do Senhor. A participação na Missa Dominical não é uma desobriga a fazer, mas um gesto que exige e os compromete. No encontro com o Senhor estreitam-se os laços da vida familiar e comunitária. Guardar o Domingo é festejar Jesus Cristo ressuscitado, concelebrar amor e comunhão fraterna.

“Foram reunir um conselho contra Jesus”, refere o último parágrafo do Evangelho. É no que dá uma religião formalista. Quando nos fechamos ao amor, procuramos disfarces de zelos e rigorismos. Condenar os outros é a maneira mais subtil de nos justificarmos a nós mesmos. O que aconteceu a Jesus acontecerá a nós. A mensagem que levamos escandaliza a muitos, que para fugirem às suas exigências, a identificam com as nossas fragilidades e limitações. “Trazemos um tesouro em vasos de barro”. (2.ª leitura)

Em resposta ao amor que interpela, tramam em conselho contra o Justo os doutores da iniquidade . É na nossa fraqueza que triunfa o poder de Deus e resplandece a glória de Jesus Cristo. Para atingirmos estes objectivos peçamos a intercessão da Bem-aventurada Virgem Santa Maria, que no seu Amor maternal nos levará a Seu Filho Jesus.

Por:
Diácono António Figueiredo