SANTÍSSIMA TRINDADE, EU VOS ADORO

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Reflexão à Liturgia da Palavra da solenidade da Santíssima Trindade, Ano B

Toda a essência divina se esconde no mistério de um igual a três: uma só natureza e três Pessoas distintas. Deus não é solidão, mas no diálogo trinitário vive o êxtase eterno, a divina fecundidade de dar e receber. Tudo quanto se vive e acontece traz o selo dos Três.
Foi Jesus Cr5iosto quem nos veio revelar os segredos do Pai e nos fez entrar com Ele na profundidade do seu mistério. O Deus inacessível e desconcertante revelou-Se em Jesus Cristo. O mistério é o manto sagrado, que recobre os fulgores de Deus e O deixa ver sem ferir os olhos. Os mistérios do cristianismo são o selo de origem, marulhar infinito e discreto da voz de Deus que falou. O mistério é a linguagem de Deus; a lógica é a garantia dos homens.
Em cada Domingo, tal como família reunida, somos chamados a sentir com particular intensidade a nossa condição de “povo reunido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito Santo!” Mas, para avivar em nós a consciência e a experiência do imenso amor de Deus, a Igreja celebra hoje, de modo solene este mistério da nossa fé: o mistério da Santíssima Trindade, Pai e Filho e Espírito Santo.
A imagem de Deus que nos é dada pelo Livro do Deuteronómio, não é a de Deus longínquo, como eram e ainda o são hoje os “deuses” pagãos, mas de Alguém que acompanha de perto os acontecimentos da vida do Seu povo, de Alguém que se interessa pelos seus problemas e intervém em seu favor. “Considera hoje e medita em teu coração que o Senhor é o único Deus no alto dos céus e cá em baixo na terra e não há outro.” (V. 39) a primeira leitura é do Livro do Deuteronómio 4, 32-34.39-40.
“Feliz o povo que o Senhor escolheu para Sua herança”, é o refrão do Salmo 32 (33), 4-5.6.9.18.19.20.22, que a Liturgia propõe para Salmo Responsorial. Este salmo é um verdadeiro canto novo a fazer vibrar as fibras do nosso coração, cantando a confiança e a certeza de que Deus vela por nós.
S. Paulo diz com palavras comoventes, qual é a nossa condição de baptizados. Não somos simples criaturas, não somos escravos que servem um patrão na esperança de ter um prémio, ou no temor de receber um castigo. Somos filhos que receberam d’Ele a sua mesma vida. “Todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus”, começa assim a segunda leitura , da Epístola de S. Paulo aos Romanos 8, 14-17.
Antes de voltar para o Pai, Jesus Cristo Ressuscitado transmite à Sua Igreja, representada pelos Apóstolos, os Seus mesmos poderes. Estes são como que o Seu prolongamento no mundo e recebem d’Ele o encargo de realizar a Sua obra, levando a todos a Sua salvação, pelo anúncio da mensagem evangélica e pelo Baptismo. “Ide e fazei discípulos de todas as nações, baptizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo”. (V. 19) da passagem evangélica deste Domingo, do Evangelho segundo S. Mateus 28, 16-20.
“Ide e fazei discípulos de todas as nações, baptizando-os”. O mistério de .Deus inacessível, deixou-Se ver e tocar. Pela graça do Baptismo, o Deus Altíssimo habita em nós, trazemos dentro a divina intimidade. Fomos instruídos na ciência de Deus e introduzidos nos Seus mistérios pela revelação de Jesus Cristo. Baptizados na água e no fogo do Espírito, tornámo-nos participantes da mesma vida divina. Toda a vida cristã, Deus em nós, é festa permanente, a celebração do amor: “Cearei com ele e ele comigo”. (Apocalipse 16,13).
“Em nome do Pai”. Deus chama-se Pai. A Sua grandeza não é solidão. Porque o amor é criador, junto do Pai se nos revela o Filho, imagem de Deus invisível. Criou o mundo e o ser humano e continua na condução da história a revelação progressiva da Sua paternidade. Diante do Pai dobramos os joelhos, porque d’Ele toma o nome toda a família do céu e da terra (S. Paulo aos Efésios 3, 14-15) e d’Ele procede todo o dom perfeito. Por um desígnio de benevolência, escolheu-nos para sermos Seus filhos adoptivos, por Jesus Cristo, segundo a Sua vontade (S. Paulo aos Efésios 1,3).
“Em nome do Filho”. Deus chama-Se Filho. Exprime a Sua essência por um verbo que diz tudo, perfeita imagem do Pai. Por Ele tudo foi dito e tudo foi feito. Eternamente gerado no êxtase do amor, em que o Pai Se contempla, o Filho de Deus nasceu entre os homens e chama-Se Jesus Cristo. A Palavra que só Deus dizia anda agora de boca em boca. Desde que o Verbo encarnou, a nossa relação com Deus faz-se por Seu Filho Jesus. No Filho que Deus nos deu, todos somos filhos e ousamos chamar-lhe Pai.
“Em nome do Espírito Santo”. Deus chama-Se Espírito Santo. O amor em Deus não é imagem ou sentimento, mas Pessoa. Tem um rosto sagrado, missão divina de comunicar vida e fazer comunhão. O Espírito Santo é o fogo em que o Pai arde, o laço de união entre o Pai e o Filho. Tudo o que é amor lhe pertence e se parece com Ele. Onde houver amor, criação e redenção, tudo o Espírito Santo assinala com o sopro da Sua presença e cobre com a Sua sombra. A Sua grande missão foi a Encarnação do Verbo. Desceu sobre Maria e repousou em Jesus, continuando a Sua obra através da Igreja, conduzindo-nos para a verdade total.
Jesus revela-nos o mistério da Trindade num contexto de missão. Os Apóstolos, a Igreja e todo o cristão vão dizer ao mundo que Deus é Pai, é Vida e é Amor. Vivendo no Amor, seremos um, como Deus é Um. A Bem-aventurada Virgem Santa Maria nos ajude a cumprir com alegria a missão de testemunhar ao mundo, sedento de amor, que o sentido da vida é precisamente o amor infinito, o amor concrecto do Pai e do Filho e do Espírito Santo.

Diácono António Figueiredo