ACIMA DE TODAS AS COISAS

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Reflexão à Liturgia da Palavra do VII Domingo da Páscoa ano B
Domingo da Ascensão do Senhor

A Ascensão do Senhor é o fecho glorioso da Sua vida terrena. Com a Ascensão, Jesus Cristo entra na glória definitiva, que se abriu por Sua morte e Ressurreição. O mistério da Ascensão proclama e consagra a realeza de Jesus Cristo. Foi o Pai que O glorificou uma vez mais, constituindo-O Senhor, pondo-O “acima de todas as coisas”, centro da história e do Universo. Sentou-Se com o Pai no trono de glória que lhe pertencia, com direitos de Unigénito, pleno de graça e de verdade.
A Ascensão do Senhor é o desfecho inédito e inesperado, que ilumina toda a vida de Jesus Cristo e a Sua obra. Todos os Seus passos convergiam para esta hora, envoltos pela agonia e pela cruz. Na Vida de Jesus Cristo tudo era Ascensão. Aquele que desceu à fragilidade de Servo, sobe agora para ser exaltado à grandeza de Senhor. Quem foi elevado na cruz tinha de ser elevado na glória.
Quarenta dias depois da Sua Ressurreição gloriosa, Jesus elevou-Se triunfalmente ao Céu. Não se tratou de uma partida, do início da Sua ausência do meio de nós. Apenas inaugurou a Sua presença invisível junto de nós. Nesta Solenidade da Ascensão, a Igreja quis celebrar também o dia das Comunicações Sociais.
S. Lucas, autor humano do livro dos Actos dos Apóstolos, narra com simplicidade a Ascensão gloriosa de Jesus Cristo ao Céu. Contudo fica-nos a garantia de que Jesus Cristo não nos abandonou, mas que ficará junto de nós até à consumação dos séculos e dá-nos o Espírito Santo para nos santificar. “Elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos”, narra a primeira leitura, do livro dos Actos dos Apóstolos 1, 1-11. Mais uma vez a nuvem se interpôs a separar o divino do humano, o provisório do definitivo. Fé é nuvem de graça em que Deus Se encobre para fixarmos o Seu rosto sem morrer.. (Jz 13,22). Agora é o tempo da fé, caminhos de esperança. Assim nos elevamos do terreno e do sensível ao encontro da Verdade que nos espera. Fé é ascensão permanente por entre nuvens, subir e ver, à luz da Palavra de Deus. A Verdade que existe e que acontece. É das alturas de Deus que se vê bem e se medem todas as coisas no seu justo valor e dimensão. Mas se queremos subir é preciso descer primeiro. “Quem se humilha será exaltado”.
O Espírito Santo move-nos a entoar um salmo de louvor e aclamação em honra de Jesus Cristo Ressuscitado que sobe gloriosamente ao Céu. Ao mesmo tempo move-nos a avivar a nossa Esperança, porque Jesus Cristo mostra-nos o caminho por onde um dia também nós subiremos pela misericórdia de Deus. Proclamamos ou cantamos o salmo 46 (47) 2-3.6-7.8-9
S. Paulo, na Carta aos fiéis da Igreja de Éfeso, convida-nos a levantar o olhar para o Alto, seguindo Jesus Cristo glorioso que sobe às alturas. O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo vos conceda um espírito de sabedoria e de luz, para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados. “O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo vos conceda um espírito de sabedoria e de luz para O conhecerdes plenamente”, diz-nos a segunda leitura, da Epístola de S. Paulo aos Efésios 1, 17-23.
Antes de subir jubilosamente ao Céu, Jesus deu-nos o mandato de evangelizar os povos, chamando-nos ao caminho da felicidade. Essa felicidade que o Senhor quer que seja participada por todas as pessoas. “E assim o Senhor Jesus depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita do Pai”. A passagem evangélica é do Evangelho segundo S. Marcos 16, 15-20. Retomou o esplendor da sua divindade, como Filho Unigénito do Pai, eternamente vivo, intercedendo por nós. Jesus Cristo é o divino percursor das nossas ascensões. Estando ausente, foi continuar, junto do Pai, o Seu papel de eterno sacerdote e único Mediador entre Deus e os homens. Foi preparar-nos um lugar no Coração do Pai, morada do nosso repouso e felicidade perfeita, assegurando-nos com Sua presença a herança eterna prometida.
Pelo seu triunfo, deu aos membros do Seu Corpo a esperança de conseguir um dia a mesma sorte. O fragor da vida, o ruído de lutas e fracassos é a azáfama de Deus, construindo a nossa morada. Para além da nuvem da fé, no segredo das coisas sem sentido, anda a mão de Deus fazendo a sua obra.
Mas a Ascensão de Jesus Cristo é o nosso triunfo e glorificação. Ele não subiu só. Leva “cativos”consigo todos os resgatados” (S. Paulo aos Efésios 4,8) que permanecem n’Ele como membros do mesmo Corpo. Conduz à glória uma multidão de irmãos de quem Ele é o primogénito. (S. Paulo aos Romanos 8,29). A graça e a glória de Jesus Cristo redunda e completa-se em nós, membros do Seu Corpo. Com Jesus Cristo vamos subindo para Deus e para a glória e é lá que vivemos em esperança. “Quero que onde Eu estou, estejam também eles comigo (S. João 17,24).
“Eles partiram a pregar por toda a parte” (V. 20). A Ascensão do Senhor reenvia-os ao mundo. O êxtase da Ascensão continua pelos caminhos do mundo, no coração das pessoas. “Ide e proclamai o Evangelho a toda a criatura”, é o mandato que Jesus faz aos seus discípulos. Jesus Cristo é a Boa Nova que vamos dar e receber de cada pessoa. O grande sinal que nos acredita e confirma a Palavra é a transparência em nós, de Jesus Cristo ressuscitado, que há-de voltar um dia glorioso, como subiu agora.
Entretanto vamos ao mundo “impor as mãos aos doentes”. A linguagem nova da paz e do amor é o milagre de todos os dias. Animemo-nos com o exemplo da Bem-aventurada Virgem Santa Maria, Estrela da Evangelização, para que Ela guie os nossos passos, para continuarmos a ser instrumentos de Jesus Cristo na salvação das pessoas.

Diácono António Figueiredo