Mensagem do Senhor Patriarca

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Mensagem do Senhor Patriarca
Dom Rui Valério
para a Festa da Família

Família, Raízes de Esperança

A Igreja coloca no centro da sua tarefa social a família: não há sociedade sem família, não há caminho de felicidade sem a célula básica constituída por Deus na união entre homem e mulher, desde os primórdios da humanidade. Por isso, a Igreja olha para a família com esperança, não uma esperança meramente humana ou mundana, mas a esperança que nasce do encontro com Deus e que é o próprio Deus que faz emergir no coração de cada um de nós. A este respeito, justamente assinalava o Papa Francisco: «Com o testemunho e também com a palavra, as famílias falam de Jesus aos outros, transmitem a fé, despertam o desejo de Deus e mostram a beleza do Evangelho e do estilo de vida que nos propõe. Assim os esposos cristãos pintam o cinzento do espaço público, colorindo-o de fraternidade, sensibilidade social, defesa das pessoas frágeis, fé luminosa, esperança ativa» (Amoris laetitia, n.º 184). 

A família aparece no plano de Deus para a humanidade como expressão daquela comunhão que o próprio Deus vive na sua intimidade mais profunda: Pai, Filho e Espírito Santo. Foi Jesus Cristo, Verbo eterno do Pai, que nos revelou a plenitude dessa comunhão e a encarnou na própria condição humana. De facto, no coração de cada ser humano está inscrita esta vocação ao amor, à doação, à reciprocidade, que só encontra a sua plena realização no Céu, na comunhão em Cristo, pelo Espírito com o Pai. Deste modo, também a família sabe que a sua plena realização só acontece quando se abre ao transcendente de Deus, quando as famílias são «escolas de eternidade», em que se aprende a amar o Céu, a dar os passos necessários em direção à vida eterna. Isto só pode acontecer se se cultiva a vida de oração, que é «o primeiro e essencial lugar de aprendizagem da esperança» (Bento XVI, Spe Salvi, n.º 32).

A situação concreta em que cada um se encontra deve, também, ser sempre redescoberto como lugar de esperança. Dizia-o assim o Papa Bento XVI: «É importante saber: eu posso sempre continuar a esperar, ainda que pela minha vida ou pelo momento histórico que estou a viver aparentemente não tenha mais qualquer motivo para esperar. Só a grande esperança-certeza de que, não obstante todos os fracassos, a minha vida pessoal e a história no seu conjunto estão conservadas no poder indestrutível do Amor e, graças a isso e por isso, possuem sentido e importância, só uma tal esperança pode, naquele caso, dar ainda a coragem de agir e de continuar» (Spe Salvi, n.º 35). Acreditar que Deus ama cada um sempre e que todos nascemos desse amor de Deus deve ser razão mais que suficiente para atravessarmos as maiores trevas do mundo sem vacilar. Isto aprende-se na família, quando diante das dificuldades e sofrimentos, os membros renovam a confiança em Deus e permanecem unidos em oração.

«Família, raízes de esperança»: o tema da Festa da Família deste ano de 2024 é um convite a redescobrir o sentido da nossa existência e da existência da família. Em agosto passado, convidava-nos o Papa Francisco a fazermos memória da nossa história: «Todos nós, se olharmos para trás, veremos pessoas que foram um raio de luz na nossa vida: pais, avós, amigos, sacerdotes, religiosos, catequistas, animadores, professores… São como que as raízes da nossa alegria» (Discurso, 5 de agosto de 2023). Não esqueçamos este convite e reconheçamos que a vida de cada um de nós permanece firme e inabalável, apenas na medida em que, como uma árvore, tem raízes profundas: que a nossa vida esteja sempre enraizada no Coração de Deus. Votos de feliz festa da família!

+ Rui, Patriarca de Lisboa