
Reflexão à Liturgia da Palavra do VI Domingo da Pascoa ano B
A mensagem da última ceia é o testemunho espiritual de Jesus Cristo. Tudo é amor na hora de despedida. Deu-se-nos em espécies de pão e vinho e em aparências de um irmão ou uma irmã qualquer. Eucaristia e caridade fraterna são o Cristo sacramentado, sinais sensíveis e reais da Sua presença entre os homens. São os divinos disfarces e fingimentos, para que os olhos humanos possam fitar a Deus sem morrer.
Desde a nossa infância aprendemos, na catequese, os Mandamentos da Lei de Deus. Na Liturgia da Palavra da Celebração Eucarística deste Domingo, o Senhor vai explicar-nos a Sua Lei, que se resume no Mandamento do Amor. Convida-nos a amá-l’O com todo o coração e a amarmo-nos como Ele nos ama.
Imitando o Divino Mestre, S. Pedro procura acolher todas as pessoas, convidando-as a receber o Baptismo, para ficarem a pertencer à Igreja. A primeira leitura é do Livro dos Actos dos Apóstolos 10, 25-26.34-35.44-48. Estes versículos representam uma pequenina parte do discurso de Pedro em casa de Cornélio, em Cesareia Marítima, quando Pedro recebeu directamente na Igreja os primeiros gentios, sem terem de passar primeiro pelo judaísmo.
No Salmo Responsorial, rezaremos cantando o Salmo 97 (98) 1.2-3ab.3cd.-4. Este salmo é um hino de louvor ao Senhor pelas maravilhas que Ele operou, concedendo-nos a graça da Salvação.
S. João convida-nos a amar-nos uns aos outros como Deus nos ama. Se formos fiéis, atrairemos as outras pessoas com o nosso exemplo e as encorajaremos a viverem assim. “Deus é Amor” afirma S. João na sua primeira Epístola 4, 11-16, que a liturgia propõe para segunda leitura. Amar é a sua vida e a sua história, na criação do mundo e na obra da redenção. Toda a história do mundo e dos homens se resumem no amor que Deus nos tem. Se Deus é amor, tudo o que existe e acontece leva o sinal de Deus impresso na sua essência e destino, Tudo acontece por amor. Jesus Cristo é o amor visível do Pai, que amou tanto o mundo que lhe deu o seu próprio Filho (João 3,16). A Sua vida e obra exprimem-se num coração aberto, Sacramento de amor para ser amado. A Igreja e a vida cristã nascem do amor do Pai e do Filho. Ser Igreja e ser cristão é amar a Deus e ao próximo.
“É este Meu mandamento: que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei”, lê-se no versículo 12 da passagem evangélica deste Domingo, do Evangelho segundo S. João 15, 9-17. Jesus Cristo deixou-nos em memorial e testamento o amor do próximo. Ao partir quis delegar a outros o amor que lhe devemos. A verdade da nossa vida e do amor a Deus está na prova de amor aos outros. “Quem disser que ama a Deus, mas odeia o seu irmão é mentiroso. (1.ª Epístola de S. João 4,20). No amor fraterno se completa a corrente que nos une em Jesus Cristo ao Pai e somos um com Ele, na unidade do Espírito Santo. O mandamento de Jesus Cristo é amor novo, vida nova. Tudo é espanto e novidade em Jesus Cristo ressuscitado. A novidade do mandamento está na medida do amor: “Como Eu vos amei”. Agora a medida já não é o homem, mas Jesus Cristo”.
Jesus Cristo amou-nos encarnando e dando a vida por nós, como a maior prova de amor. Amar é assim. Quem quiser ser de Jesus Cristo, tem de encarnar os outros como são, assumindo a totalidade da pessoa no seu mistério de fragilidade e de grandeza. Amar é dar a vida. É preciso morrer como Jesus Cristo, para que o mundo acredite no amor. O nosso amor ao próximo é um amor crucificado. Morre-se em cruz de exigências, em renúncias de egoísmos, que doem e não acabam. “A caridade tudo sofre”.
Por isso, amar é dar-se. Damo-nos aos irmãos em provas de estima e confiança, em serviço constante. É preciso perder a vida para a ganhar; perder o tempo para o pôr a render. Os outros são a minha importância , o meu muito que fazer. Nunca sou tão importante, como quando me perco pelos outros. Irmão, irmã, vales muito mais que o meu tempo. Amar são obras. Urge a toda a hora, em pequenos gestos, em exigência constante e invenção permanente. É em coisas pequenas onde o amor se recreia e mostra grande.
Amor é comunhão. Pelo amor fraterno abrimo-nos aos outros e comungamo-nos no mesmo ideal, na união de vidas e interesses. Deste modo nos assimilamos mutuamente e formamos um só corpo. Já não sou eu que vivo, és tu que vives em mim. Não há divisões nem recusas, vidas à margem, ressentimentos, mas comunhão de vidas no amor.
Quem quer que sejas, meu irmão, minha irmã, com tudo o que tu és, eu te comungo.
A Bem-aventurada Virgem Santa Maria nos ajude a permanecer no amor de Jesus e a crescer no amor para com todos, sobretudo para com os mais débeis, a fim de corresponder plenamente à nossa vocação cristã.


