
Reflexão à Liturgia da Palavra do V Domingo da Páscoa Ano B
Não acabou o trabalho do Senhor na obra dos seis dias, mas continua ainda. “Eu sou a verdadeira cepa e meu Pai o agricultor”. Israel foi a vinha eleita que Deus plantou. Mas a cepa escolhida converteu-se em videira degenerada, de sarmentos estéreis e bastardos. (Is c.5; Jer2,21).No lugar da vinha de Israel, Deus plantou a Sua Igreja, onde o seu trabalho e amor paterno darão fruto em abundância.
No clima pascal que estamos a viver, Jesus Cristo faz-nos esta belíssima declaração do Seu Amor: “Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto” (Evangelho). Mas Jesus quis declarar-se noutros moldes não menos ternos. “Sem Mim nada podeis fazer”.
A Igreja exulta em festa, porque é Páscoa e é Domingo. V Domingo da Páscoa. A Liturgia da Palavra, à medida que nos adentra no clima de despedida de Jesus, avança na demonstração do crescimento da Igreja, unida a Jesus Cristo. A alegoria da videira e dos ramos, é hoje uma expressão clara da nossa união a Jesus Cristo e da comunhão dos cristãos no seu único Senhor.
Saulo, o perseguidor dos cristãos, encontra-se pessoalmente com Jesus Cristo no caminho de Damasco e agora quer anunciar o Evangelho e quer juntar-se aos discípulos de Jerusalém. O ambiente não lhe é favorável. Barnabé apresenta-lhes Paulo e contou-lhes como no caminho ele tinha visto o Senhor. Disto nos fala a primeira leitura, do Livro dos Actos dos Apóstolos 9,26-31.
“Eu vos louvo, Senhor, no meio da multidão” é o refrão do Salmo Responsorial, para o qual a Liturgia propõe o salmo 21(22) 26b-27.28.30.31-32. Este salmo reflecte a vocação universal do Povo de Deus, sem fronteiras de qualquer espécie. O Evangelho deve chegar a todos.
“Não amemos com palavras e com a língua, mas com obras e em verdade”.Assim começa a segunda leitura da 1.ª Epístola de S. João 3, 18-24. “É este o seu mandamento: acreditar no nome de seu Filho Jesus Cristo e amar-nos uns aos outros como Ele nos mandou”, escreve S João nesta Epístola. Amar, sim. Em obras e verdade. Fazer bem o bem, pela força do Bem maior, que é a graça de Deus. A fé é a raíz e o fundamento da nossa união com Jesus Cristo. Aderimos a Ele e permanecemos n’Ele pela Palavra que nos comunicou. Na fé fomos gerados para uma vida nova, a mesma vida de Jesus Cristo e entrámos na família de Deus. Mas para que as palavras de Jesus Cristo permaneçam em nós, é necessário que elas frutifiquem em boas obras. Só frutificarão pela solicitude do Pai, que enviou o Seu Espírito para nos conduzir a Jesus Cristo, a verdade total. “A obra do Pai é acreditar n’Aquele que nos enviou” (João 2,9).
E com fé anda o amor. O amor é o fogo que nos une a Jesus Cristo, o laço essencial de vida e comunhão. “Permanecei no Meu amor”. Só permaneceremos no amor de Jesus Cristo se cumprirmos os Seus mandamentos. Não se ama com palavras, mas com obras e em verdade. (1Jo3,18). Amar os outros é a verdade da nossa fé e da nossa vida, a prova real do amor de Deus. Quando acreditarmos em Jesus Cristo e nos amarmos uns aos outros, cumpriremos a Lei nova que o Pai nos deu.
“Eu sou a videira, vós sois os ramos” diz Jesus na passagem evangélica deste Domingo, Evangelho segundo S. João 15, 1-8. Trata-se de uma alegoria que não carece de grandes explicações,. É preciso escutá-la com atenção para entrar na comunhão com as palavras de Jesus. Com Jesus Cristo formamos um só Corpo, um único princípio vital, fonte de vida e crescimento. “Permanecei em Mim”. Quem não estiver unido a Jesus Cristo, com ramo unido ao tronco, não dará fruto nem terá vida, porque “sem Mim nada podeis fazer”. Um membro separado de Jesus Cristo só serve para deitar fora. Pelo vínculo da graça ficamos unidos a Jesus Cristo. Passa em nós a divina seiva, que nos faz crescer n’Ele e caminhar na vida nova. Sendo todos membros de Jesus Cristo, formamos um só corpo, teremos a mesma vida. Sem Jesus Cristo, sem os irmãos nada podemos fazer.
“Vós sois a agricultura de Deus”. (1.ª Epístola de S. Paulo aos Coríntios 3,9). Somos a divina solicitude, que amanhece em nosso ser a toda a hora, a divina construção das suas glórias. É Deus quer em nós madruga e vai à frente,. Pertencem-lhe as iniciativas de arrancar o que não dá fruto e podar para que dê mais. Se não for Ele, ninguém se atreve. Deus não se contenta com a nossa mediocridade. Não lhe basta que vivamos, mas quer vida em abundância. Ao sopro do Espírito levantam-se tempestades e provações para arrancar a cepa morta e os ramos secos.
Na História da Igreja haverá sempre crises, que se sucedem num ritmo constante. São as horas de agonia que lhe toca sofrer, como corpo de Jesus Cristo, horas de purificação e crescimento para encher e completar os celeiros do Pai. A sangria que vai na Igreja e na vida religiosa, com abandonos e cortes, é crise de crescimento. Tem a cor do Espírito Santo. Tudo é graça, por onde o amor vem e a vida cresce.
O Pai é o agricultor. Ele limpa. Ele corta. Quem não há-de querer ser vinha?
Seja-nos dada a ajuda da Bem-aventurada Virgem Santa Maria, Rainha dos Santos e modelo de comunhão perfeita com o seu divino Filho. Ela nos ensine a permanecer em Jesus, como ramos na videira e a nunca nos separarmos do seu amor. Com efeito, nada podemos sem Ele, porque a nossa vida é Jesus Cristo vivo, presente na Igreja e no mundo.


