
Reflexão à Liturgia das Palavra do IV Domingo da Páscoa, Ano B
Quando Jesus se proclamava o “Bom Pastor”, revivia na sua voz a linguagem profética que o povo sabia e relembrava. Bom Pastor era título messiânico. O Pastor esperado, anunciado pelos profetas era Ele. Neste figura se condensavam os títulos do Messias,a sua tríplice missão de sacerdote, profeta e rei.
Pastores há muitos, mas Jesus Cristo é o verdadeiro Pastor, único e singular, que veio ao mundo para fazer-se Cordeiro. “Eis o Cordeiro de Deus!”. Foi enviado pelo Pai a apascentar o seu povo e levá-lo à fonte da água viva. A sua missão de Pastor continua hoje na Igreja, através dos seus representantes. “Apascenta as minhas ovelhas”. Os pastores de agora encarnam a mesma missão profética, a mesma voz e presença de Jesus Cristo entre os homens. Repetem-se as situações, repete-se a mensagem.
O Quarto Domingo da Páscoa é chamado o Domingo do Bom Pastor. Jesus Cristo é o único e verdadeiro Pastor que conhece intimamente o Pai e transmite esse conhecimento aos seus. Conhece também de perto a condição humana e oferece a sua vida pela salvação de todos.
Porque veio para ser “o Bom Pastor” de todos os homens, que chama e que cuida das suas ovelhas, Jesus Cristo quis que o seu ministério pastoral fosse prolongado no espaço e no tempo. Assim, na pessoa de Pedro e dos outros Apóstolos, Jesus Cristo põe à frente da sua Igreja o Papa e os Bispos, a fim de que, estando ao serviço dos irmãos e irmãs, possam conduzi-los para o redil de Jesus Cristo. Com os bispos e sob a sua autoridade, colaboram os presbíteros e os diáconos.
Neste Domingo, Dia Mundial de Oração pelas Vocações, rezamos especialmente por aqueles que na Igreja são chamados “pastores”e para que eles nunca faltem à Igreja.
Deus continua presente no mundo, operando maravilhas a favor dos homens, agora por meio dos Apóstolos. Apesar de estar sob prisão, Pedro, diante do Sinédrio, após ter curado um paralítico de nascença, em nome de Jesus Cristo, rejeitado e condenado por eles, é o único Salvador de toda a humanidade. Disto nos fala a primeira leitura, do Livro dos Actos dos Apóstolos 4, 8-12.
“A Pedra que os construtores rejeitaram tornou-se Pedra Angular”, e o refrão do Salmo 117 (118) 1 e 8-9.21-23.2.28cd.29 que a Liturgia propõe para Salmo Responsorial. Louvemos com alegria a pedra rejeitada que se tornou para nós Pedra Angular, fonte de misericórdia e salvação.
A vida divina trazida por Jesus Cristo, fruto do amor de Deus, começa no Baptismo. A partir daí, somos filhos e filhas de Deus em Jesus Cristo, mas ainda não se manifestou totalmente o que havemos de ser. Só se manifestará em todo o seu esplendor no dia em que formos semelhantes a Deus, quando O virmos face a face. Disto nos fala a segunda leitura, da 1.ª Epístola de S. João 3, 1-2.
Perante tantos governantes do povo que perseguem somente o seu interesse pessoal, Jesus Cristo define-se como o Bom Pastor: verdadeiro, autêntico, único. Só Ele conhece e ama realmente os seus, até dar a vida por eles. Este conhecimento cria comunhão de vida, relação pessoal, activa, amorosa e recíproca. “Conheço as minhas ovelhas e as minhas ovelhas conhecem-Me”, diz Jesus no Evangelho deste Domingo segundo S João 10, 11-18. Jesus Cristo Bom Pastor, é o Profeta e o Vidente. Conhece a cada um e chama-nos pelo nome, comprometido connosco numa relação íntima e pessoal. Não somos um número, mas a imagem de Deus, protagonistas da história, actores de destinos. Jesus Cristo e nós somos um. Nada do que nos acontece lhe é estranho.
A nossa atitude e resposta é estar à escuta para O reconhecer quando vier. A voz de Jesus Cristo anda oculta em mediações humanas e sensíveis, por entre a neblina dos sinais dos tempos. Os que são de Jesus Cristo conhecem-n’O, discernindo-lhe a voz na confusão de ruídos e mensagens,. Também nós somos profetas, pastores de mensagens, assimilado a voz de Jesus Cristo para que o mundo O reconheça.
“Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir”, afirma Jesus. Rei e Pastor é a mesma missão que o Pai confiou a seu Filho. Os homens andavam errantes como ovelhas sem pastor e Jesus Cristo veio juntar na unidade os filhos de Deus dispersos. (S. João 11,52). Pela sua ressurreição, Jesus Cristo tornou-se o grande Pastor da ovelhas (Epístola aos Hebreus 13,20). Vai à frente, conduzindo-nos por lugares seguros e alimentando-nos de pão vivo. O único Pastor na Igreja e o único Senhor na Igreja e o único Senhor é Jesus Cristo. Quando obedeço é a Jesus Cristo que obedeço e não aos homens.
Levantam-se hoje muitos messias, falsos pastores, “que não entram pela porta”. Materialismo e naturalismo são ladrões e salteadores; não conduzem, mas devoram. Não nos deixemos invadir por falsos poderes que nos seduzem e enganam. Somos senhores e não clientes de qualquer gosto ou ideologia. O cristão também é rei e tem a missão de conduzir.
“Eu dou a vida pelas minhas ovelhas”. Jesus Cristo é sacerdote que sacrifica e vítima que se oferece. Deu a vida pelos irmãos como a maior prova de amor. O Bom Pastor é assim; os outros são mercenários. Ser pastor na Igreja é dar a vida. Não comporta interesses egoístas e mercenários. Quando derem a vida, então as ovelhas saberão que são pastores. Com Jesus Cristo dão a vida no testemunho da verdade que vivem e anunciam, no alimento dos mistérios que repartem.
O sacerdócio real de Jesus Cristo que trazemos, faz de todos nós vítimas que se imolam em exigências de caridade. Ser cristão é como “ser dador de sangue” dar a vida pelos irmãos. Com a Bem-aventurada Virgem Santa Maria coloquemo-nos à disposição do Senhor: “Eis a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Vossa palavra”.


