SOU EU!

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Reflexão à Liturgia da Palavra do III Domingo da Páscoa Ano B

Sou Eu!
Era realmente Ele, mas os discípulos não o reconheciam. Se a dor é mistério, a alegria também. Como prova de que era Ele, Jesus apresenta as Suas chagas como credenciais. No Seu Corpo glorioso toda a carne foi libertada. Jesus Cristo veio salvar o homem total, alma e corpo e transformar todas as cruzes da vida em troféus de vitória. Fomos enfim reconciliados com o nosso corpo espiritual (I Epístola de S. Paulo aos Coríntios 15, 42-44), ressuscitado na fé e na esperança. Já não é prisão, mas templo; já não é escravo, mas livre.
Reunidos como os Apóstolos no Cenáculo, celebramos a Páscoa do Senhor em cada Domingo, quando nos reunimos em assembleia celebrante para escutar e meditar na Palavra de Deus e nos alimentarmos com o Pão da vida, Jesus Cristo. A sua Paixão, Ressurreição e Glorificação se tornam presentes e nos envolvem em cada Eucaristia que participamos.
O Apóstolo Pedro dirige-se aos judeus anunciando o acontecimento grandioso da Ressurreição do Senhor e apresenta o seu testemunho: “nós somos testemunhas”, afirma S. Pedro na primeira leitura, do Livro dos Actos dos Apóstolos 3, 13-15.17-18. Também nós somos chamados a comunicar a alegre notícia que tudo renova e vivifica: Jesus Cristo é o ressuscitado e está connosco, acraditai, “arrependei-vos e convertei-vos para que os vossos pecados sejam perdoados.”
“Erguei Senhor sobre nós a Luz do vosso rosto”, é o refrão do Salmo 4, 2,.4.7.9., que a Liturgia propõe para Salmo Responsorial deste Domingo. Peçamos ao Senhor que as nossas palavras, os nossos pensamentos e a nossa conduta, sejam verdadeiramente cristãos.
Na nossa vida deve haver uma unidade coerente entre o que acreditamos e as nossas obras. “Meus filhos, escrevo-vos isto para que não pequeis”, começa assim a segunda leitura da Primeira Epístola de S. João 2, 1-5a.
A nossa fé apoia-se na experiência da Ressurreição que tiveram os Apóstolos e na heroicidade que cumpriram a missão ao mundo inteiro com o seu testemunho. Sejamos também nós continuadores alegres e esforçados da missão apostólica. “Abriu-lhes então o entendimento para compreenderem as Escrituras”. (v. 45) do Evangelho segundo S. Lucas 24, 35-48, proclamado neste Domingo. A luz é o Espírito Santo, presente pascal de Jesus Cristo à Sua Igreja. Por ele, os homens saberão ler as Escrituras, o sentido pleno da história. Tudo é Palavra de Deus, ou escrita ou encarnada e o Espírito Santo é o seu autor. Nas páginas da Escritura ou no coração de cada pessoa é o mesmo Espírito que escreve a mesma revelação de amor. O Espírito a escreveu e pelo Espírito se interpreta.
“Havia de ser pregado em Seu Nome o arrependimento e o perdão dos pecados” afirma Jesus no Evangelho. Ressurreição e conversão confundem-se no mesmo anúncio e missão da Igreja. Conversão é vida nova, à imagem do homem novo. Jesus Cristo ressuscitado. Consiste em conhecê-l’O e amá-l’O, viver em comunhão com Ele, guardando os seus mandamentos. A vida cristã reverte-se dum carácter pascal. Pelo poder redentor de Jesus Cristo nascemos para esta vida nova, morrendo e ressuscitando com Ele. Cada dia morremos e ressuscitamos, em ensaio de esperança para a ressurreição futura. Morre-se nas lutas e fracassos, nos sofrimentos e temores de toda a hora. Tudo acontece ao ritmo binário de morte e ressurreição, inseparáveis no mesmo destino de grandeza e plenitude.
Por isso, temos de progredir na nossa identificação com Jesus Cristo, conformando-nos ao Seu Corpo glorioso. Toda a mudança em nós se faz em Páscoa, porque exige cruz e ressurreição. Para isso é preciso subir à cruz. Foi na cruz que Jesus Cristo atingiu a perfeição de homem e desde então a plenitude do homem e da vida está no amor crucificado. Quando nos dermos a Jesus Cristo e pusermos a vidas pelos outros, cresce e amadurece em nós Jesus Cristo pascal.
“Vós sois testemunhas de todas estas coisas”, conclui o Evangelho deste Domingo. Os discípulos serão em toda a parte, testemunhas da ressurreição, proclamando que não há outro nome no qual possamos ser salvos. A missão continua hoje na Igreja e em cada cristão. Anda em todos os nossos gestos um anúncio de Páscoa, sabor de paz e ressurreição que não se extingue.
A missão da Igreja dimana de Jesus Cristo ressuscitado. Toda a vida sacramental da Igreja recorda o mistério pascal, do qual depende e tira toda a sua eficácia. Pelos sacramentos continua na Igreja a presença de Jesus Cristo no mundo e a sua acção salvadora. Os sacramentos são o rosto visível de Jesus Cristo ressuscitado. O Baptismo é o sacramento da ressurreição e vida nova. No altar da Eucaristia celebra-se a aparição.
Pela ressurreição todos os seguidores de Jesus Cristo hão-de ser julgados e darão a vida. És tu, sou eu, que pomos em causa a ressurreição de Jesus Cristo, dizendo ao mundo se ressuscitou ou não. Que neste caminho nos ampare a Bem-aventurada Virgem Santa Maria, a cuja intercessão maternal nos entregamos com confiança.

Diácono António Figueiredo