
Reflexão à Liturgia da Palavra do VI Domingo da Quaresma, Ano B
(Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor)
Eis o mistério da cruz! Vai abrir-se o livro, onde queremos ir aprender a divina ciência de amar sem medida. O mistério da dor que redime, começa em triunfo e passando pela morte termina em ressurreição. Toda a cruz é hossana.
Era necessário que Jesus Cristo sofresse. Ficaria sempre uma dúvida suspensa, se Jesus Cristo não morresse pela verdade que pregava. O testemunho irrefutável é a prova do sangue. A cruz de Jesus Cristo é o grande despojo, a grande humilhação. Pelo aniquilamento do Calvário completa-se o despojo da Encarnação, o sim total e absoluto do amor de Jesus Cristo ao mundo e ao Pai.
O mistério de Jesus Cristo sofredor é mistério de obediência. A vontade do Pai era a sua cruz, a divina Escritura que tem de cumprir-se em Jesus Cristo e em nós. A obediência de Jesus Cristo é amor crucificado; a figura de Servo tem a forma de cruz. Não é o sofrimento que redime, mas a aceitação da vontade do Pai. A obra das redenção , encarnar e morrer, começa e acaba num sim decisivo: “Eis que venho” e termina com um inclinar de cabeça: “tudo está consumado”.
O Profeta Isaías introduz-nos no mistério do Servo de Yawé que sofre por nós. Pelas suas chagas havemos de ser curados. Jesus é o servo sofredor, obediente até à morte e morte de cruz! Disto nos fala a primeira leitura, em Isaías 50, 4-7.
Para Salmo Responsorial, a Liturgia propõe o salmo 21 (22) 8-9.17-18a. 19-20.23-24. Este salmo foi rezado por Jesus na cruz. “Meu Deus, Meu Deus, porque me abandonaste?”.Neste salmo sentimos a solidão e o sofrimento do Senhor, mas também descobrimos a esperança e entrevemos a vitória do Messias.
O homem das dores, humilhado, o Senhor diante de Quem se dobram todos os joelhos, é a Pessoa que dá razão de ser à nossa vida de cristãos. “Cristo Jesus que era de condição divina”. Assim começa a segunda leitura, na qual escutaremos a Epístola de S. Paulo aos Filipenses 2, 6-11.
Como Evangelho iremos escutar com atenção a narrativa da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Marcos 14, 1-15,47. Este evangelista explica-nos, de forma simples e clara quem é Jesus Cristo que entrou triunfalmente em Jerusalém: “Verdadeiramente este homem é o Filho de Deus”.
“Completo o que falta aos sofrimentos de Cristo” (S. Paulo aos Colossences 1, 24). A Paixão de Jesus Cristo completa-se em nós como membros do Seu Corpo. Por isso, Jesus Cristo continua em agonia até ao fim do mundo. Hoje, Jesus Cristo ressuscitado já não morre, a morte não tem domínio sobre Ele (S. Paulo aos Romanos 6,9). Mas continua sofrendo em cada homem e cada mulher, ate se completar a obra da redenção. Onde houver alguém a sofrer, entra Jesus Cristo em agonia mais uma vez, através da minha compaixão e solicitude fraterna. Não há dores anónimas ; todas se chamam cruz de Cristo. A sua Paixão continua presente no mundo com a sua eficácia redentora, dando um sentido novo ao sofrimento. Dores e cruzes são sementes de ressurreição.
Perante a cruz de Jesus Cristo, qual a nossa atitude? Não lhe posso fugir. É a dor que nos faz pessoas e nos aprova ou reprova na ciência da vida. Quem não sabe sofrer, também não sabe viver. Pela dor se amadurece e se chega à plenitude. Para as dores alheias não bastam lamentos e compaixões (Lucas 23,28). É pouco animar quem sofre, com palavras de resignação. A cruz dos outros, cruz de Jesus Cristo, não admite espectadores a ver passar. Todos estamos comprometidos e implicados na dor de quem sofre. Todos em paixão, todos em agonia. Não há dores alheias , mas o grito unânime, que nos solidariza e confunde na mesma dor. Irmão ou irmã, sou responsável na tua história, guarda das tuas dores, que também são minhas.
A cruz de Jesus Cristo precisa de Cireneus. Carregar a cruz hoje, é aceitar a vida , sofrer com os que sofrem. Passam a meu lado cruzes a cair, dores a desfalecer. São minhas, porque são tuas. Os outros são a minha paixão, que comungo todos os dias. Anda a cruz de Jesus Cristo incompleta, a Paixão inacabada, enquanto eu não carregar o meu peso, a minha parte. Há cruzes vazias , que esperam crucificados.
Tenhamos a coragem da Bem-aventurada Virgem Santa Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, para contemplar Jesus crucificado, de permanecer junto à Cruz com Jesus, e meditar no Seu sofrimento.


