
Reflexão à Liturgia da Palavra do V Domingo da Quaresma Ano B
A hora de Jesus era a hora de sofrer. Passou a vida vivendo as horas dos outros, mas esta era a sua: Só as horas do sofrimento são verdadeiramente nossas . Ninguém entende, todos dormem. Mas a hora de Jesus não vem como uma catástrofe que desaba; é exigência traçada num projecto de amor. Na aparência ´é a hora do poder das trevas, mas na realidade é a hora do amor e da exaltação.
Vamos celebrar a Eucaristia do quinto Domingo da Quaresma, ano B. A hora de Jesus aproxima-se. Perante a proximidade da Sua Paixão, Jesus vai indicar-nos qual o caminho dos que O procuram sinceramente. . “Se o grão de trigo, lançado à terra não morrer, fica só; mas se morrer dará muito fruto”. Deixemos que o Senhor escreva a Sua nova lei no nosso coração para que as nossas vidas dêem fruto abundante.
Neste período de renovação da nossa vida, somos convidados a acompanhar o percurso de Jesus em direcção à cruz. No Evangelho encontraremos motivos que nos desafiam a compreender a profundidade do sacrifício e a promessa de uma vida transformada. Que o Espírito Santo desperte em nós uma entrega mais profunda e fortaleça a nossa fé, para viver em verdade esta Quaresma, em ordem à celebração da próxima Páscoa.
Na leitura de Jeremias encontramos a promessa divina de uma nova aliança, gravada nos corações. Um convite à transformação, onde a Lei de Deus se torna parte de nós, guiando-nos eternamente. “Dias virão em que estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova”, refere a primeira leitura, em que escutaremos as palavras da Profecia de Jeremias 31, 31-34.
No Salmo 50 (51) 3-4.12-13.14-15, ecoa a súplica : “Dai-me Senhor um coração puro”, que serve de refrão ao Salmo Responsorial. Nesta prece sincera, somos convidados a um caminho de humildade e renovação interior.
Ao contemplarmos Hebreus, vislumbramos a entrega compassiva de Jesus Cristo, que em agonia oferece súplicas ao Pai. Neste acto sublime encontramos redenção e aprendemos a obediência filial. “Nos dias da Sua vida mortal, Jesus Cristo dirigiu preces e súplicas, com grandes clamores e lágrimas”. Assim começa a segunda leitura, da Epístola aos Hebreus 5, 7-9.
Na passagem evangélica , escutaremos o Evangelho segundo S. João 12, 20-33. Aqui estaremos atentos, uma vez mais, à narrativa do grão de trigo que cai e morre para dar fruto. É uma alusão à própria morte de Jesus Cristo. Jesus, ao falar da Sua própria morte, revela-nos a profundidade do Seu amor Redentor. “Chegou a hora”, diz Jesus. A hora máxima de Jesus consiste em fazer a vontade do Pai. Fez da obediência o seu pão, amassado em sofrimento, para garantia e sustento da nossa salvação. Hora de obedecer é hora de sofrer. Jesus Cristo morre para obedecer, porque obediência é vida. Na hora do Templo vem antecipada a hora do Horto. “Agora, a minha alma está perturbada. Mas é por causa disto que Eu cheguei a esta hora”. A hora grande de Jesus é a hora grande do Pai, glorificando o Seu Filho: “Glorifiquei-O e tornarei a glorificá-l’O”. Agora, porque o príncipe deste mundo vai ser lançado fora; depois, pelo triunfo da Sua ressurreição.
“Onde Eu estiver, aí estará também o Meu servo”, garante Jesus. Também nós temos a nossa hora, que revive e completa a hora de Jesus. Batem na vida horas de tudo. Todas soam no Coração do Pai, sintonizadas em Jesus Cristo, que as encarnou e fez Suas. A nossa hora grande é fazer-nos obedientes com Jesus Cristo até à morte., Temos de aprender com Ele no sofrimento a difícil arte de obedecer.
Pela obediência, a nossa personalidade humana cresce e amadurece, até à plenitude da nossa estatura em Jesus Cristo. É a obediência que nos redime e nos faz grandes. Quando faço a vontade de Deus, realiza-se em mim o Seu plano redentor e ombreio com Ele, fazendo o que Ele quer. A grandeza da minha vida está em obedecer. Estar em Jesus Cristo, viver n’Ele é a minha tarefa de servidor.
“Elevado da terra, atrairei todos a Mim” , continua Jesus a dizer. Para isto chegou Jesus a esta hora e nos chamou a sair de nós para o Pai. A nossa hora exige uma resposta que nos distinga e nos comprometa. No mundo de hoje ninguém quer comprometer-se, para andar ao sabor de momentos e situações. A fidelidade aos compromissos é o distintivo da verdadeira personalidade, a fecundidade da vida. Matrimónio, sacerdócio e vida religiosa têm horas de agonia , noite escura, onde o amor se purifica e decide mais uma vez. São horas de crescimento, crise de redenção. Fidelidade ao amor, obediência ao Pai, é a resposta que nos glorifica e exalta.
Tenho de ser elevado com Jesus Cristo para ser glorificado com Ele. É preciso perder a vida para a conservar eternamente. Quando eu morrer como o grão de trigo, não ficarei só, porque atrairei todos a mim. A cruz convence, a dor atrai. Os atractivos de Deus são cruzes e agonias , apelos de morte e ressurreição.
Não quero a solidão do orgulho, a pobreza de caminhar só. Nas horas dos outros serei elevado e verei o Céu abrir-se. Que a Bem-aventurada Virgem Santa Maria nos ajude a seguir Jesus, a caminhar fortes e felizes, pelas vias do serviço, para que o amor de Jesus Cristo brilhe em todas as nossas atitudes e se torne cada vez mais o estilo da nossa vida quotidiana.


