
Reflexão à Liturgia da Palavra do VI Domingo do Tempo Comum Ano B
A lepra era impureza legal., que impedia ao leproso o convívio com as outras pessoas. Dá-se neste milagre o primeiro confronto entre o fariaísmo legal e as exigências do amor. Jesus situa-se acima da Lei, tocando o leproso e deixando.-se tocar. Fala como quem tem autoridade. Procede como o Senhor da Lai, que encontra nele a sua meta e finalidade (Epístola de S. Paulo aos Romanos 10. 4). Jesus vem promulgar o primado do amor, acima de todas as normas e estruturas. O amor é a lei. O importante é amar.
A fé de Pedro e a fé de Paulo. Pedro confessa a sua fé, a fé de toda a Igreja: “Tu És o Messias, o Filho de Deus vivo. Paulo professa a sua fé, a fé de todos cristãos: “vivo na fé do Filho de Deus, que me amou e se entregou a Si mesmo por mim” (Epístola de S. Paulo aos Gálatas 2,20). Nós reunimo-nos na fé da Igreja, para celebrar a vitória do amor sobre todas as forças do mal. Sobre o testemunho da fé dos Apóstolos, ganha solidez a nossa pouca fé. E na pobreza da nossa fé ousamos invocar a misericórdia de Deus.
A lepra é hoje uma doença fácil de curar, quando tratada a tempo e convenientemente, mas foi, ao longo dos sécuos e quase até aos nossos dias, o flagelo da humanidade.. Os leprosos eram expulsos da família e de todo o convívio social, para evitar o contágio, pois a lepra é extremamente contagiante. Os autores espirituais chegavam a ver nela, pelos seus efeitos destruidores, uma imagem do pecado. Neste dia em que a Liturgia da Palavra nos fala da lepra, havemos de pedir ao Senhor que confronte e cure os leprosos do mundo inteiro e nos livre do contágio do pecado e nos cure quando o cometermos.
“Impuro, impuro!. Assim gritava o leproso e assim grita o mundo chagado, alertando quem passa. Disto nos dá conta a Primeira Leitura, tirada do Livro do Levítico 13, 1.3. 44.46. Há surtos de lepra por toda a parte. Nos bairros de lata e no mundo subterrâneo do vício e da droga apodreem “os impuros” que a civilização industrial marginalizou e a sociedade de consumo finge desconhecer. Há poblemas gritantes, com os quais governantes e responsáveis não querem manchar-se. Jesus não fez assim e o seu gesto salutar repete-se hoje na Igreja, despertando a indiferença e o egoísmo dos homens. (J. Paulo II – Sol. Soc. Da Igeja, 42).
Mas a grande impureza consiste na falta de amor e comunhão fraterna. Coração impuro é aquele que abriga no seu ínimo rancores e maus juízos e se alimenta de egoísmos e vaidades. É isto que perverte o coração e o torna impuro. O que vem de fora não manha o homem, mas revela o íntimo dos seus corações. Para os puros de coração tudo se converte em graça de ver a Deus. Em tudo o que vêem e tocam descobrem e saboreiam o êstase original: “E viu Deus que tudo eera bom!”
O salmista proclama a felicidade de todo aquele que foi perdoada a culpa do pecado, reconciliando-se com Deus. Na verdade “Feliz o homem a quem o Senhor não acusa de iniquidade e em cujo espírio não há engano”, Assim nos proclama o salmo 31 (32)1.2-5.7.11, que a Liturgia propõe para Salmo Responsorial.
Para que seja evitado o contágio da lepra do pecado, S. Paulo dá preciosos conselhos aos fiéis da Igreja de Corinto. Estes conselhos são tamém válidos para todos nós. “Portai-vos de modo que não deis escândalo, nem aos judeus, nem aos gregos, nem à Igreja de Deus”. Assim nos aconselha a Segunda Leitura, tirada da Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios 10, 31-11,3.
O Pai do Céu enviou o seu filho Unigénito para Se fazer homem e nos curar da lepra do pecado. “Não o digas a ninguém”, diz Jesus ao leproso depois de o curar, como relata o Evangelho deste Domingo, tirado de S. Marcos 1, 40-45. E porquê? Porque nem todos entendem. Então como agora, há olhos mesquinhos, corações duros que puseram a perfeição em rigores farisaicos. Não compreendem a nova linguagem, a regra do amor como plenitude de toda a Lei. Refugiam-se em normas e observâncias, fáceis de cumprir, como calmante seguro, que os torna insensíveis às exigências do amor. Legalismos e observâncias , vazias de amor, sâo a impureza do coração.
Jesus impõe silêncio para evitar entusiasmos mal entendidos sobre a sua identidade messiânica. Não pretende honras nem aclamações, mas quer despertar nos ouvintes a obediência da fé, que os torna adoradoes do Pai em espírito e verdade. Rejeita a imagem dum messias popular e político, para dar lugar aos Messias sofredor, Servo de Javé. A propaganda orquestrada pefere o silêncio, onde a semente da palavra cresce para ser madura e mesa farta.
“Mas o leproso ao sair, começou a proclamar a notícia”, remata o Evangelho. Quem pode conter o amor? O amor não tem horas. Para o leproso tinha chegado a hora de anunciar o dom de Deus. O amor agradecido apressou a hora de divulgar por toda a parte o milagre de Jesus, como a súplia de Maria apessou a hora dos sinais (milagres) nas bodas de Caná. A misericódia do Coração de Jesus Cristo e a fé do leproso saltam barreiras, que a letra desconhecia. O amor tem razões que a razão não entende.
Leproso sou eu! Leproso, és tu. Tantas chagas a doer gritando por amor!


