
Reflexão à Liturgia da Palavra do IV Domingo do Tempo Comum Ano B
O Demónio sabia quem era Jesus; e eu, cristão, sei quem é?
Jesus é o Profeta, aquele que Mosés anunciou e os tempos esperavam. Desde os começos do seu ministério se apresenta como libertador. Ele é o “Santo de Deus”, em oposição e guerra declarada a tudo o que é maldade e injustiça, ódio e opressão. Vem salvar o homem todo, libertá-lo de todos os males que o oprimem. Cura em dia de sábado, libertando o homem da escravidão da letra que mata, para caminhar na lei nova, que vivifica. O sábado da Lei celebrava a obra criadora dos seis dias, vésperas solenes do dia da salvação. A da cura e expulsão do Demónio anuncia o Reino que já chegou, primícias do sábado eterno que nos espera.
Neste Domingo acompanhamos Jesus Cristo que entra, num sábado, na sinagoga e ali ensina com a autoridade que lhe vem da sua coerência de vida! A Sua Palavra é eficaz e os seus gestos eloquentes. Jesus é o que diz. Ele faz ao dizer. Ele fala ao fazer. Ele afronta o mal pela sua raíz e liberta-os do pecado que nos divide. No fulgor da luz deste Deus Santo, reconheçamos a nossa face negra, as sombrias regiões dos nossos pecados, sobretudo os da incoerência e da desbediência à Palavra de Deus.
Na transmissão da fé cristã, o testemunho faz parte essesncial do anúncio. Por isso, ao leitor, ao catequista, aos pais, aos educadores cristãos, soam e ressoam estas palavras de advertência: “Crê o que lês, ensina o que crês, vive o que ensinas”. Só assim a tua palavra será escutada. A Primeira leitura da Celebração da Palavra deste Domingo é tirada do Livro dom Deuteronómio18, 15-20.
O salmista convida-nos a exultar de alegria no Senhor, abrindo os nossos corações para escutar e acolher a Sua Palavra. “Se hoje ouvides a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações”, é o refrão do Salmo Responsorial deste Domingo, para o qual nos é proposto o salmo 94 (95), 1-2.6-7.8-9.
A Segunda leitura convida os crentes a repensarem as suas prioridades e a não deixarem que as realidades transitórias sejam impeditivas de um verdadeiro compromisso com o serviço de Deus e dos imãos. “Não queria que andásseis preocupados”, refere o início da segunda leitura, tirada da Primeitra Epístola de S. Paulo aos Coríntios 7, 32-35.
A passagem evangélica deste Domingo, tirada do Evangelho de S. Marcos 1, 21-28, mostra como Jesus, o Filho de Deus, cumprindo o projecto libertador do Pai, renova e transforma em homens livres todos aqueles que vivem prisioneiros do egoísmo, do pecado e da morte. “Cala-te e sai desse homem”, diz Jesus ao demónio na passagem evangélica deste Domingo, tirada do Evangelho de S. Marcos 1, 21-28. Era o enconto inevitável com o príncipe deste mundo, que vai ser lançado fora. O Demónio é o inimigo do homem, o invejoso e homicida desde o princípio (S. João 8,44). Jesus vem para o perder. “Cala-te!”. Mas apesar do triunfo de Jesus Cristo, o Demónio continua a ser considerado por muitos crentes como um poder paralelo, alternativa de Deus. Cultiva-se em certos meios uma duvidosa piedade, que vive mais de revelações particulares do que da Revelação divina e do Magistério da Igreja. Para muitos, o medo do Demónio convence mais do que o amor e a cruz de Jesus Cristo.
Jesus recusa triunfalismos, rejeita publicidade. Só as causas perdidas precisam de propaganda. A verdade não tem adjectivos. As obras de Jesus Cristo falarão por si, quando chegar a sua hora. Quando for exaltado na cruz, então será reconhecido como Filho de Deus (Mc 15,39). Do seio do fracasso brotará o triunfo e a redenção e saberá o mundo que as forças do mal servem os planos de Deus. O Demónio é um vencido. É servo e não senhor.
“Uma nova doutrina e com que atoridade”, comentavam os judeus, conforme narra o Evangelho. Não era assim que falavam os escribas e doutores. Jesus manda no sábado, manda nos espíritos e confirma a sua doutrina com os sinais que a acompanhavam A autoridade que mostra já tinha sido anunciada por Moisés (1.ªleitura). Jesus ensina mandando. A sua atoridade consiste no poder de salvar e libertar, como senhor do sábado, senhor da vida. Ensina por actos, expulsando o Demónio. Em Deus, dizer é fazer.
Mas a a autordade de Jesus vem-lhe do alto. Reveste-se de poder, porque é Palavra do Pai. “Porei as minhas palavras na boca dele” (1.ª leitura). Assim, ordenando e ensinando, manifesta a sua pessoa e o segredo da sua vida. Em Jesus Cristo Deus se revela vida e acção.
O poder e a novidade de Jesus Cristo continuam na Igreja. É em nome de Jesus que a Igreja fala e manda com o poder do Pai. A doutrina da Igreja é a novidade de sempre. Nos seus sacramentos continua e revive a acção de Cristo, expressa em palavras e sinais. Neles a Palavra se torna vida e poder.
A Assembleia Dominical é escuta da doutrina nova. A Palavra de Jesus Cristo nos ilumina, o seu sangue nos liberta. Eu sei quem És!
A Bem-aventurada Virgem Santa Maria guardou sempre em seu coração as palavras e os gestos de Jesus e seguiu-O com total disponibilidade e didelidade. Que Ela nos ajude também a ouvi-l’O e a segui-l’O, a experimentar nas nossas vidas os sinais da sua salvação.


