VINDE E VEDE!

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Refexão à Liturgia da Palavra do II Domingo do Tempo Comum Ano B

Com a festa do Baptismo do Senhor dá-se início ao Tempo Comum. Esta é a celebração do mistério de Cristo, actualizado no tempo e nos homens. Prolonga a celebração do mistério pascal, centrado no Dia do Senhor. Os tempos fortes litúrgicos convidam-nos à contemplação de Jesus Cristo, mas o Tempo Comum actualiza e leva à plenitude o seu mistério em nós. Jesus Cristo encarnado nas obras e na vida é o caminho a percorrer, a meta a alcançar.
O Tempo Comum é o tempo de realização, semente a germinar, seara a crescer. Tudo começa com um gesto que aponta para Jesus Cristo. “Eis o Cordeiro de Deus. João Batista vem lançar a ponte que leva a Jesus Cristo, unindo os dois extremos, ,as duas margens do amor. A sua grandeza é ficar. Ai da ponte que eu sou, se me fosse atrás dos transeuntes! Que seria dos que viessem depois? Apontar caminhos, levar os outros a Jesus Cristo é o dinamismo da fé, sinal e testemunho do que se viu e ouviu.
A fé ensina-nos que não somos frutos do ocaso. Deus chamou-nos à vida na terra, paa que depois de algum tempo de prova nesta vida, partilhar connosco a Sua felicidade eterna no Paraíso. Quando nos chamou à vida na terra, pelo mistério dos nossos pais, Ele tinha um plano para nós e os Seus planos de misericórdia para nos ajudar a realizá-lo. Chamamos vocação a este plano.
Todas as pessoas têm uma vocação, um projecto de amor que Deus traçou para ela e com o qual são chamados a colaborar livremente.
Neste Segundo Domingo do Tempo Comum, Ano B, o Senhor que nos convocou para este encontro com Ele, convida-nos a redescobrir o que Deus quer de nós e como temos procurado realizar a Sua Vontade Santíssima..
O profeta Samuel, ainda menino e a viver no Templo, ouve, durante o sono, a voz do Senhor que o chama e responde com prontidão. Devemos prestar atenção à nossa vocação pessoal, antes de a elegermos como caminho da nossa vida e no seguimento fiel.” O Senhor chamou Samuel e ele respondeu: «Aqui estou». Chamamento de Deus e pronta resposta de Samuel. É com esta frase que se dá início à primeira leitura tirada do Primeiro Livro de Samuel 3, 3b10.1
O Espírito Santo, pelo Salmo de meditação, convida-os a colocar as nossas esperanças no Senhor e nos ajuda. Convida-nos a repetir as palavras que o ator da Carta aos Hebreus coloca nos lábios de Jesus Cristo, ainda no seio materno: “Eu venho Senhor, para fazer a vossa vontade”, que serve de refrão ao salmo 39 (40)4ab.7.88a 8b-9.-10-11.
S.Paulo, na Primeira Carta aos fiéis da Igreja de Corinto, recorda a altíssima vocação a que foram chamados pelo Baptismo. Na verdade, como ele escreve na sua carta . “O corpo não é para a imoralidade, mas para o Senhor e o Senhor é para o corpo”, refere a segunda leitura tirada da Primeira Epístola de S. Paulo aos Corintios 6, 13c-15a.17-20
Bem-aventurados os que anunciam a salvação em Jesus Cristo, presente na Igreja que Ele mesmo fundou. “Que buscais? Pergunta de Jesus a quem O seguia conforme narrativa da passagem evangélica deste Domingo, respingada do Evangelho segundo S. João 1, 35-42. A fé começa em perguntas e vive-se em respostas. É Deus quem tem a iniciativa. O seguimento de Jesus Cristo nasce duma escuta, que nos leva a sair de nós mesmos por caminhos imprevistos. Olhar e ser olhado é condição para ver o invisível e crer o que não vemos. Para isso temos de andar na rectidão e pureza da vida, libertos e disponíveis para creer e para amar (refere a segunda leitura). Só assim a Palavra de Deus terá ressonância sem nós. Na vida concreta, o Senhor nos interroga, escrevendo pela nossa mão a Sua vontade soberana..O essencial é responder.
“Onde moras?” perguntaram a Jesus os dois discípulos de S Joâo Baista que O seguiam. Fé é ver e ficar. Deixando-se possuir pela presença de Jesus Cristo que nos chama. Nasce e cresce o elo do encontro vital que nos une e compromete na mesma vida e comunhão. Quem encontra Jesus Cristo, já não se pertence a si mesmo, porque foi “comprado”por um grande preço (2-ªleitura). “Ficaram com Ele”. Começaram aqueles homens desde então, a ser discípulos de Jesus Cristo, introduzidos na escuta da Palavra, na intimidade da sua vida.
O cristão é um morador de Jesus Cristo, praticante da Palavra. Não se fica em sinais, mas O segue; não olha de longe, mas entra e permanece. Ver e morar em Jesus Cristo é a suma contemplação, cimo da fé e do amor, onde Deus se toca. Quem morar em Jesus Cristo torna-se morada do Pai, templo do Espírito Santo. Foram. Viram. Ficaram . Nisto se resume o programa do seguimento de Jesus Cristo, o itinerário do discípulo que temos de percorrer.
“Levou-o a Jesus” salienta o Evangelho. Deus quer salvar o homem pelo homem e faz dele seu instrumento. A fé vive-se em partilha e cresce quando se dá vida e comunhão. “Hás-de chamar-te Pedro, que quer dizer pedra. A fé de Simão converte-o em alicerce da comunidade dos crentes.Quem vê a Deus tem de morrer; quem acreditar tem de mudar de nome e de vida. Ser cristão é mudar de nome. Agora chamas-te Cristo.
Que a Bem-aventurada Virgem Santa Maria nos ajude a fazer das nossas vidas um cântico de louvor a Deus, em resposta à Sua camada e no cumprimento humilde da sua vontade. Mas lembremo-nos disto: para cada um de nos, na vida, houve um momento em que Deus se fez presente com mais instência, com uma chamada. Recordemo-lo. Voltemos aquele momento, para que nos renove sempre no encontro cm Jesus.

Diácono António Figueiredo