O MENINO CRESCIA

By

Reflexão à Liturgia da Palavra da Festa da Sagrada Família

Dentro da oitava do Natal, a Liturgia coloca, muito significativamente, a Festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José.
O Senhor que no seu nascimento humano dispensou uma casa, um berço e todas as comodidades deste mundo, não quis privar-se de uma família cheia de amor, escolhendo para o acompanhar na vida, a melhor das mães e o melhor dos homens para exercer a missão de pai, excepto na geração. Ao mesmo tempo apresenta-a como modelo vivo de todas as famílias de todos os tempos.
A salvação de Deus foi-nos dada num contexto de familia. Frutifica o dom de Deus no viver oculto e calado da família de José, o carpinteiro. O mistério de Nazaré consiste em não haver mistério. Tudo simples e normal como numa família qualquer. É isto que não entendem as minhas impaciências messiânicas e gritam dentro de mim: “Mostra-te ao mundo!” A vida de Jesus de Nazaré é sinal de contradição, destino do berço que O levará à cruz. “O pai e a mãe do Menino estavem admirados” (Evangelho)
O Livro de Ben-Sirá apresenta, de forma muito prática, algumas atitudes que os filhos devem ter para com os pais … É uma forma de concretizar esse amor na família. “Deus quis honrar os pais nos filhos e firmou sobre eles a autoridade da mãe”. Assim começa a primeira leitura, extraída do Livro de Ben-Sirá 3, 3-7.14-17a.
O salmo de meditação canta a felicidade daqueles que seguem os caminhos do Senhor, como convite a que procuremos segui-lo também. O amor da família, além de nos tornar agradáveis a Deus, faz-nos seguir pelo caminho da verdadeira felicidade. Para Salmo Respopnsorial a Liturgia propõe o salmo 127 (128)1-2.3.4.5.
S. Paulo na Carta aos fiéis da Igreja de Colossos, que ele fundou, ensina a vida que há-de reinar nas famílias cristãs. Fala do perdão mútuo, do exercício de uma caridade operativa que não fique apenas em bons sentimentos e desejos e aconselha-nos a que inspiremos a nossa conduta na Palavra de Deus. “Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente …” aconselha a segunda leitura, tirada da Epístola de S. Paulo aos Colossenses 3, 12-21.
Nesta festa da Sagrada Família de Jesus, Maria e José, deixemo-nos banhar pela Luz da Palavra de Deus, para que reine em nossos corações a verdadeira paz. “O Menino ia crescendo”, descreve a passagem evangélica desta festa, tirada do Evangelho de S. Lucas 2, 22-40. Crescia no silêncio como tudo o que é humano. O silêncio é a linguagem de Deus, a divina arte para dizer grandes coisas. Ao mundo que ensurdece com o ruído de palavras e perguntas insensatas Dfeus responde em silêncio, para ser mais clara e mais forte a expressão da sua vontade soberana. É no silêncio com Deus que a Palavra se escuta e o amor se saboreia. É ali que a semente germina e cresce para dar fruto a seu tempo. Há em todos os rumores das coisas e acontecimentos um espaço de silêncio, para onde Deus nos convida e se revela aos seus amigos. O silêncio são os “ouvidos de ouvir”, que o Senhor exige, para aqueles que O seguem.
Jesus crescia. A Palavra de Deus emudece e no silêncio diz ao Pai toda a honra e toda a glória. A sabedorioa de Deus aprende no livro da vida a experiência de ser pessoa, homem e mulher. Do programa de Jesus, que o Pai lhe traçou,, não constam poderes nem honras. O mais imoportante é ser. Em pobreza e humildade realiza-se humana e divinamente e atinge a plenituide do seu crescimento e missão salvadora.
“Tornava-se robusto e cheio de sabedoria”, prossegue o Evangelho. Nada mais diz o Evangelho; nada mais havia a dizer. A vida de Jesus em Nazaré não tem história; estáescrita na minha. Em tudo o que vivo e me acontece leio a vida de Jesus, impressa na minha história e sucessos de cada dia. Não se envergonhou de ser homem, nem temeu correr o risco de identificar-se comigo.
Jesus trabalha. Assim se sujeitou à lei comum do trabalho, imposta a todo o homem e mulher. Trabalhar era o seu ofício, enquanto homem, pelo qual assumia o mandamento divino de dominar a terra e submetê-la. Não revolucionou técnicas nem fez exposições de trabalhos. Era carpinteiro como qualquer carpinteiro, irmanado na mesma rotina e obscuridade. Meteu-se dentro das nossas limitações e cansaços para os remir e divinizar. Obscuridades de Jesus Cristo são as nossas grandezas. Pelo seu trabalho continua o despojo de Belém, tomando a forma de servo. O cansaço do fim do dia já é aniquilação do Horto e do Calvário.
“A vossa vida está escondida com Cristo em Deus” (S. Paulo aos Colossenses 3,3). Porquê? Porque primeiro a vida de Deus está escondida com Jesus Cristo em nós. Inseridos em Jesus Cristo, tudo em nós se redime e torna grande. A importância e grandeza da nossa vida está em fazer a vontade de Deus. Em humildade e pobreza se esconde a redenção. A minha grande obra é dar-me todo ao momento que passa. A máxima pressa consiste em estar aqui; a máxima importância é fazer bem o que faço. A importância não está nas coisas; está dentro de mim. Sou eu que as torno pequenas ou grandes, segundo o amor com que as fizer. A minha importância depende de mim e não das coisas ou dos lugares que ocupar.
A Bem-aventurada Virgem Santa Maria faça com que as famílias de todo o mundo sejam cada vez mais fascinadas pelo ideal evangélico da Sagrada Família, de modo a tornar-se fermento de nova humanidade e de solidariedade concrecta e universal. Meus caminhos reais, minha rotina e cansaço é Nazaré de todos os dias.

Diácono António Figueiredo