
Reflexão à Liturgia da Palavra do Domingo IV do Advento Ano B
Advento é o “mês de Maria” do ano litúrgico. Nele aparece como figura dominante a “Cheia de Graça”, “bendita entre todas as mulheres”. Com Maria vai ao encontro do Messias toda a esperança de homens e mulheres. No seu seio virginal, a união indissolúvel entre a promessa e a realidade. Em Maria converge e chega à plenitude todo o esforço do Advento vivido pelo povo de Israel, através de desertos e lutas constantes. A Virgem de Nazaré personifica a fidelidade dos Patriarcas e Profetas ao Deus da Aliança. Nas palavras do Anjo a Maria se revela a realização das promessas feitas por Deus a David. (1.ª leitura)
Já em vésperas do grande dia do Natal, depois de contemplarmos uma história de amor que Deus estabeleceu desde sempre com o Seu Povo, firmando para isso uma aliança, sempre aberta à plenitude, somos convidados a contemplar a realização das promessas de Deus fiel, pela Encarnação de Seu Filho, Aliança Nova e Eterna, que a todos toca no mais profundo da nossa humanidade, do nosso ser interior e nos impele a uma proposta de doação da vida semelhante a Maria de Nazaré. Somos convidados a celebrar com alegria e sem medo ou sem temor. Alegra-te e não temas é anúncio na Encarnação. Alegra-te e não temas é anúncio de Páscoa. Alegra-te e não temas é o lema do povo em caminhada, Igreja em saída, peregrinação de discípulos missionários.
Celebrar a Eucaristia é celebrar toda a ternura, graça e misericórdia do nosso Deus, sempre simples, sempre humilde sempre a servir os Seus filhos. Na verdade, só o Deus que se faz homem é que se revela verdadeiro.
Escutemos as vozes proféticas como fez David. Nelas encontramos o desejo de conversão e a certeza que Deus jamais nos abandona, mesmo perante a nossa pobreza, erros e pecados. “O Senhor anuncia que te vai fazer uma casa”, escutamos na primeira leitura, tirada do segundo livro de Samuel 7, 1-5.8b-12.14a.16. Advento significa construir uma casa. Todo o Cristão, com Maria e como Maria, é palácio onde Deus reside, monumento das suas glórias. É Deus que constrói na Igreja e no coração das pessoas uma morada para Si. A habitação que Deus quer funda-se em humildade, ergue-se em silêncio, subsiste na intimidade e no amor indissolúvel. Através de noites e silêncios, o mistério de Deus actua em nós, levando à perfeição a sabedoria começada. Pela obediência da fé somos habitados por Deus. Toda a vez que eu digo sim, Deus visita a sua morada. Quando escuto a Palavra e obedeço à voz do Pai, Jesus Cristo encarna outra vez.
“Cantatrei eternamente as misericórdias do Senhor”, é o refrão do Salmo Responsoruial deste Domingo, onde recitaremos ou cantaremos o salmo 88 (89), 2-3.4-5.27 e 29. O salmo repete a promessa da primeira leitura sobre a vinda do Salvador que nasceria da descendência do rei David.
S. Paulo refere o mistério da salvação destinado a todos os povos, para que todos obedeçam à fé e se possam salvar. “O mistério encoberto desde os tempos eternos , mas agora manifestado”, salienta a segunda leitura extraída da Epístola de S. Paulo aos Romanos 16, 25-27. Deus envolve-se em silêncio e é nele que vive e actua. Em Jesus Cristo quebra-se o silêncio de Deus e se proclama o mistério escondido. Jesus Cristo é o sigilo do Pai, marcando os acontecimentos e a marcha da humanidade. O mistério que Jesus Cristo nos revela está na salvação que nos traz e no apelo aos gentios para virem gozar da mesma graça. Pela acção da Igreja, a salvação revelada chegará a todos os tempos e a todas as pessoas. Então será restaurada a realeza do universo, “o seu reinado não terá fim” (Evangelho de S. Lucas 1, 33)
Maria de Nazaré ficou surpreendida pela envolvência de tão grande mistério. Mas soube ter a mais bela e disponível atitude de humildade, de fé e de compromisso incondicional. “Faça-se em mim segundo a tua palavra”, diz Maria ao Anjo, conforme nos diz a passagem evangélica deste Domingo, tirada do Evangelho de S. Lucas 1, 28,38. O sim de Maria fez descer Deus ao mundo a viver entre as pessoas e construir-lhes uma casa para habitar. Pela sua aceitação, “o Verbo encarnou e habitou entre nós” (Evangelho de S. João 1,14),. A sua humildade de serva criou no mundo o vazio, que só Deus enche com sua grandeza e plenitude. Todo o sim é criador. O sim de Maria vai em uníssuno com o sim do Verbo, encarnado em seu seio. “Eis a serva do Senhor. Faça-se”. “Eis-me aqui para fazer a tua vontade” (Salmo 40,7). No sim de Maria ecoa a voz do Filho, que ao entrar no mundo se ofereceu em sacrifício e holocausto pelo pecado. Pronunciando o seu sim, Maria vai adiante, como precursora de obedientes e profetiza ao mundo que o Filho do Altíssimo vai nascer para fazer sempre a vontade do Pai. O sim da Serva do Senhor renova a aliança engre Deus e os homens. Desde agora Deus tem entre nós a sua morada predilecta, construída por obra do Espírito Santo. Templo do Verbo é Maria; Templo do Pai é Jesus Cristo. Se o nascimento de Jesus Cristo não tocar a nossa vida, passa em vão. Saiba cada um de nós dizer com convicção: “Faça-se em mim segundo a Tua Palavra”; a Bem-aventurada Virgem Santa Maria nos ajude a dizê-lo com a vida, com a actividade deste último dia de preparação do Natal, que celebraremos amanhã.


