DIZEM, MAS NÃO FAZEM

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Reflexão à Liturgia da Palavra
do XXXI Domingo do Tempo Comum Ano A

Todo o cristão é responsável na Igreja pela sua participação na realeza de Jesus Cristo e todos nos sentámos na cátedra de Moisés, fazendo a triste figura de escribas e fariseus. As palavra de Jesus Cristo nos despertam hoje para a fidelidade à mensagem.
Deus dirige-se aos sacerdotes de uma forma muito exigente, dizendo-lhes para se afastarem do Seu caminho e por consequência, afastaram muitos. A primeira leitura convida-nos a rezar pela santidade de vida dos sacerdotes e a propcurar ajudar a que os padres tenham um plano de oração diário, com momentos explícitos de paragem para rezar e que procurem acompanhamento espiritual. Que entre os sacerdotes se viva de verdade uma fraternidade, pela qual nos ajudamos a crescer na santidade.
“Vós desviastes-vos do caminho, …” refere a primeira leitura, tirada do Livro de Malaquias 1, 14b; 2,2b.8-10. Assim se queixava o Senhor. A maioria das pessoas fecham-se à Mensagem, recusando escutar a Deus e glorificar o Seu Nome. Num mundo paganizado, o homem perdeu o sentido de Deus para dar culto e idolatrar os seus egoísmos e interesses. Pusemos Deus à margem como importuno e damos-lhe apenas um lugar de cerimónia. Uns desperdícios de tempo para salvar as aparências.
O mundo de hoje é campo devastado por contradições e problemas. Deixamo-nos talvez invadir da preocupação do social e do político, esquecidos do fermento da graça, que transforma e dá sentido às realidades terrenas. Assalta-nos a tentação de conformar o Evangelho às nossas conveniências. Ocultam-se verdades, atenuam-se exigências, eliminando assim o escândalo e a eficácia da cruz de Jesus Cristo. “Não vos conformeis com este mundo” (S. Paulo aos Romanos 12,2).
A paz é um sinal de que vivemos na presença de Deus, pelo que, ao pedir que Deus nos guarde na Sua paz, pedimos-Lhe que nos ajude a viver mais a fidelidade à Sua vontade, a qual só é possível pela oração diária. O Salmo Responsorial deste Domingo, é preenchido com o salmo 130 (131) 1.2.3.
S. Paulo dá graças a Deus pelo acolhimento que os tessalonicenses fazem da Palavra de Deus. Que também nós acolhamos de coração aberto pela oração com a Palavra de Deus. “Fizemo-nos pequenos no meio de vós”, assim começa a segunda leitura, tirada da Primeira Epístola de S. Paulos aos Tessalonicences 2, 7b-9.13.
Todo o discípulo de Jesus é chamado a viver com simplicidade e humildade, sem procurar a vã glória, pelo que pedimos a Deus que saibamos rectificar sempre a intenção em todos os nossos pensamentos, palavras e obras. Que tudo o que pensamos, dizemos e fazemos seja para a glória de Deus.
“Eles dizem e não fazem”, diz Jesus na passagem evangélica deste Domingo, tirada do Evangelho segundo S. Mateus 23, 1-12. De hipócritas e fingidores temos um pouco, ou mesmo muito. Somos fecundos em palavras, mas estéreis em boas obras. O testemunho da nossa vida não corresponde às exigências do ideal que professamos. Não há lógica e coerência entre aquilo que aparece e aquilo que dizemos ser. Como bons fariseus, pretendemos salvar as aparências com rigorismos e intransigências, que só nos condenam e desacreditam.
Por isso, os nossos moralismos e exigências são caricaturas de Jesus Cristo e do Evangelho do amor. A Boa Nova de Jesus Cristo veio libertar as consciências e os corações de jugos insuportáveis, de velhos medos e velhas alianças. Se a grandeza da mensagem nos ultrapassa, contudo Deus não temeu o risco de a confiar à nossa imperfeição e mediocridade. Só me pede o esforço constante duma contínua conversão à verdade, para que a minha vida seja a sua real e eficaz transparência.
“Um só é o vossos Mestre”, diz Jesus no Evangelho. Jesus Cristo. Só a Ele temos por único Mestre e Doutor. Não queremos outros ensinamentos nem aceitamos outros mestres que pretendem possuir o monopólio da verdade. O nosso guia é Jesus Cristo, que nos fala hoje na Igreja pelo seu Espírito e leva a cada um pelo seu caminho, único e irrepetível.Quem quiser ser chefe, que se faça como Jesus Cristo, servo de todos.
“Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado”, conclui o Evangelhodeste Domingo. A autoridade na Igtreja é caminho de humildade, exercício de amor e perfeição. Os primeiros lugares só se podem preencher, esvanziando-nos de nós mesmos, das nossas pretensões e suficiências. A humildade é o pedestal onde assentam e se erguem poderes e grandezas. Jesus Cvristo não quer a minha humilhação, mas mostra-me o caminho para ser exaltado. Não há títulos nem honras capazes de encobrir a mediocridade duma vida. De nada valem distintivos e filactérias, se não ressaltar a verdade das minhas obras, a clareza das minhas atitudes. Há muito farisaísmo oculto em rigores do fácil e exterior, esquecendo o que é mais difícil e importante na Lei.
No Reino de Deus não há primeiros nem últimos, mas a divina igualdade que faz de todos irmãos.
A Bem-aventurada Virgem Santa Maria nos ajude a tornar a nossa fé cada vez mais activa, pelo exercício da caridade fraterna, pela autenticidade da nossa vida do quotidiano e que o nosso exemplo possa resplandecer já aqui neste caminho que trilhamos.

Diácono António Figueiredo