
Reflexão à Liturgia da Palavra do XXVII Domingo do Tempo Comum Ano A
“O Pai é o agricultor e o mundo é a sua vinha” (Jo 15,1). A primeira plantação foi o Povo de Israel, vinha eleita, predilecta, que Deus limpou de idolatrias, cercou de cuidados e muniu de defesas (1.ª leitura). Enviou criados, sagrou reis e profetas, para receber a seu tempo os frutos que lhe pertenciam. Mas em vez das uvas da justiça e rectidão, só colheu em troca gritoas de horror e sangue derramado.
Enviou por fim o seu Filho, o Único, o muito Amado; mas os seus não o receberam. Fecundada pelo Sangue de Jesus Cristo nasceu a Igreja, vinha nova replantada no Coração do Pai pelo amor do Filho. Agora na vinha de Deus, a única videira é Jesus Cristo e nós somos os seus ramos, cepas escolhidas que o Pai plantou. “A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular” (Evangelho).
Há uma relação efectiva entre uma vinha e aquele que a cultiva, entre um campo e o lavrador, entre o jardim e a pessoa que o cultiva diariamente. A vinha, o campo e o jardim e os respectivos donos dependem uns dos outros. É-lhes exigido um investinmento contínuo de trabalho, de vigílias e gastos, alimentados pela esperança da vindima, da ceifa, ou do desabrochar das flores. O Senhor serve-se destas figuras para nos explicar quanto devemos aos seus cuidados e o que espera de cada um de nós.
A Liturgia da Palavra deste vigésimo sétimo Domingo do Tempo Comum, Ano A, constitui um convite a um profundo exame de consciência sobre o que temos recebido de Deus e como temos correspondido a tanto desvelo.
Isaías chama Israel à conversão, lembrando-lhe as misericórdias de Deus em favor do Seu povo, com o canto da vinha. Cada um de nós é esta vinha eleita do Senhor que tem recebido ao longo da vida contínuas demonstrações do Amor de Deus. “Vou cantar, em nome do meu amigo, um cântico de amor à sua vinha”. Assim começa a primeira leitura, extraída o Livro de Isaías 5, 1-7.
No salmo que o Espírito Santo coloca nos nossos lábios, cantamos as maravilhas de Deus para com o Seu Povo. Afinal tudo isto se aplica a cada um de um de nós, porque a nossa vida é ahistória da misericórdia do Senhor para connosco. “A vinha do Senhor é a Casa de Israel”. Este é o refrão do Salmo Responsorial, hoje o salmo 79 (80), 9.12.13-14.15-16.19-20.
S. Paulo preocupa-se com a Igreja de Filipos, como a vinha que o Senhor lhe mandou plantar, ao fundá-la e cuidá-la, para que se mantenha fiel. Os conselhos que lhe dá ajustam-se perfeitamente: “Não vos inquieteis com coisa alguma. Mas em todas as circunstâncias apresentai os vossos pedidos diante de Deus, com orações, súplicas e acçõs de graças”, refere a segunda leitura, tirada da Epístola de S. Paulo aos Filipenses 4, 6-9.
Deus escolheu cada um de nós para ser Seu filho (a) e nos tornar eternamente participantes da Sua felicidade infinita. “Os outro agricultores”, refere a passagem evangélica deste Domingo, tirada do Evangelho de S. Mateus 21, 33-43. São aqueles que receberam Jesus Cristo e pela fé se tornaram filhos e filhas de Deus. Acolheram a Sua mensagem e acreditaram em Seu nome (Jo 1,12(). Por isso lhes foi dada a vinha, entrando com o Herdeiro a ter parte na mesma herança. A Igreja é um povo de herdeiros, “herdeiros de Deus, co-herdeiros com Cristo” (S. Paulo aos Romanos 8, 17). Pelo sangue de Jesus Cristo, o Filho rejeitado, Deus adquiriu para si um Povo novo. Já não há sebes nem valados. A vinha do novo Reino tem por limites e fronteiras o Coração do Pai. A nova defesa e protecção está no sangue de Jesus Cristo, que nos arma de constância e fortaleza invencíveis.
Por isso o projecto de Deus não pode fracassar. Na ordem da natureza como na ordem da graça, tudo converge e se transforma. Recusas e infidelidades chamam por outros agricultores que entreguem ao Senhor da vinha os frutos esperados, cultivados na dor e na esperança. São os que nada rejeitam, mas tudo arriscam, suportando intempéries e imprevistos, ao peso do dia e do calor. Do lagar do sofrimentocorre a seiva da vida nova. Do pecado e da morte nasceu vida e ressurreição.Agora tudo em nós pertence ao Senhor da vinha e toda a hora é tempo de dar frutos. “Foi esta a obra do Senhor, admiável aos nossos olhos”.
“Ser-vos á tirado o Reino de Deus e dado a um povo que produza os seus frutos”Versículo 43 do Evangelho). Somos rendeiros de Deus. Como temos frutificado? Matamos à nascença as exigências da graça e expulsamos Jesus Cristo dos nossos projectos. So podemos dar frutos, se permanecermos em Jesus Cristo, fundados e unidos a Ele na mesma vida e herança. Jesus Cristo frutificou dando a vida por nós; e nós frutificamos dando a vida por Ele. Pelo Espírito Santo vive e trabalha em nós a solicitude do Pai e do Filho. “Vós sois a agricultura de Deus” (1.ª Epístola de S. Paulo aos Coríntios 3,9).
A Eucaristia é o vinho novo da verdadeira Vide. Quem dela beber dará muito fruto. Jesus Cristo é em nós o fruto da Vinha. Comungar Jesus Cristo é apoderar-se da herança. Reunimo-nos agora a à Bem-aveturada Virgem Santa Maria e neste mês de Outubro renovemos o compromisso de recitar diariamente o terço do Rosário


