ARREPENDEU-SE E FOI

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REFLEXÃO À LITURGIA DA PALAVRA DO XXVI Domingo do Tempo Comum ano A

Os trabalhadores da vinha chamam-se agora “filhos”. No projecto de Deus todos somos filhos, porque chamados a particiar da sua vida, empenhados na mesma obra. Ser filho de Deus é fazer a sua vontade. “Filho, vai!”.
A Liturgia da Palavra deste vigésimo sexto Domingo do Tempo Comum, ano A, interpela-nos sobre a forma como estamos a viver o nosso compromisso baptismal. Na verdade, pode acontecer que estejamos a viver uma espécie de esquizofrenia religiosa: dizemos uma coisa e vivemos outra, tal como Jesus nos alertará na parábola do Evangelho deste Domingo.
O Profeta Ezequiel dirige um apelo à responsabilidade pessoal. A vida não é algo de estático, pelo contrário, é dinâmica e cada pessoa, em todas as circunstâncias, deve optar por Deus, convertendo para isso o seu coração e as suas acções. “Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado”, refere a primeira leitura tirada da Profecia de Ezequiel 18, 15-28. Qual a nossa resposta? Afastar-nos do mal para sermos enxertados em Jesus Cristo. Se queremos formar um com Ele, temos de abrir os olhos , “praticando o direito e a justiça”. Só deste modo poderemos salvar a vida e assegurar a felicidade eterna. Pelas obras da fé nos convertemos em ramo verde para dar frutos que permaneçam. Converter-me é aceitar a vontade de Deus, encarnada em seu Filho Jesus Cristo. Se acredito n’Ele tenho de mudar de vida, fiel às suas exigências e compromissos. Uns recusam obedecer, outros iludem a resposta com aparências evasivas. Para uns e para outros, nunca é tarde o arrependimento. Fracassos e recusas podem ser começos de misericórdia.
No Salmo Responsorial, o salmista canta a misericórdia de Deus. Todos necessitamos do perdão de Deus, porque é perante os nossos pecados que Deus manifesta a Sua clemência e bondade. “Lembrai-Vos, Senhor, da Vossa misericórdia”, é o refrão do salmo 24 (25), 4-5. 6-7.8-9, que será cantado neste Domingo.
O Apóstolo S. Paulo, na sua carta aos cristãos de Filipos, exorta-os à caridade e à humildade. Lembra que a humanidade é o resultado e a condição necessária para haver uma caridade autêntica e duradoura. “Obedecendo até à morte e morte de Cruz”, refere o versículo oito do capítulo 2, versículos um a onze da Epístola de S. Paulo aos Filipenses, para a segunda leitura. Jesus Cristo é o Filho muito amado, que o Pai enviou a trabalhar na sua vinha. Toda a vida foi obedecer. “Sim, Pai!”. O exemplo de Jesus Cristo nos estimula a ter os mesmos sentimentos. O nosso sim é Jesus Cristo.
A parábola que Jesus nos conta no Evangelho deste Domingo, demonstra duas atitudes possíveis diante do convite que Deus nos faz. Há alguns que dizem mas não o fazem e há outros, que apesar de muitas relutâncias, cumprem a vontade de Deus.”Depois arrependeu-se e foi”, narra Jesus ao contar esta parábola desrcrita no Evangelho de S. Mateus 21, 28-32. Em resposta ao apelo há recusas e abandonos. Pecado é dizer: “Não quero”. Mas por caminhos de pecado, em disfarces de miséria e cativeiros, fez-se peregrino connosco o amor misericordioso. E na obra da graça, o não converteu-se em sim. A fina flor da graça é converter o mal em bem. Dizer não e depois sim é o itinerário de todos os convertidos. No regresso de egoísmos e prazeres, descobriram o amor, produzindo frutos de penitência. Na obediência da fé fizeram a vontade de Deus.
”Eu vou, Senhor. Mas de facto não foi”, prossegue Jesus na narrativa. É o retrato dos fariseus, os de ontem e os de hoje, que dizem, mas não fazem. Pretendem a aliança do sim e do não, incapazes de coerência e compromissos. Vivem de disfarces e aparências, encobrindo os pensamentos secretos do coração. Sempre a dizer sim, sim, mas não fazem a vontade de Deus. São ouvintes da Palavra, mas não realizadores e praticantes. Não se arrependem, porque não acreditam em Jesus Cristo, no qual tem pleno cumprimeto toda a lei. “A plenitude da Lei é Cristo” (Epístola de S. Paulo aos Romanos 10,4). As obras da fé nos justificam e não as observâncias e gestos rituais. Por isso, publicanos e meretrizes, que acreditaram e se converteram, “vão antes de vós para o Reino de Deus”.
A vida cristã exige fidelidade e constância. Perante o Senhor que chama, a resposta é dar tudo. Acompanha-nos a graça do chamamento, que fará em nós maravilhas.O Evangelho é optimista. . Ameaçam ruínas, mas a esperança não morre. Por noites e fomes do pecado andam publicanos e pecadores, ensaiando o regresso. Em linguagem da graça, talvez um abandono signifique busca e um não queira dizer sim.
Jesus chama-nos à atenção para um compromisso sério. Se efectivamente somos cristãos e discípulos de Jesusm, temos de actuar como tal. Não basta dizer que somos cristãos. É extremamente necessário agir como tal. Não bastam só as boas intenções e palavras bonitas. Aqueles que se dizem cristãos têm de se empenhar em cumprir a vontade de Deus. A Bem-aventurada Virgem Santa Maria nos ajude a sermos verdadeiros cristãos, não pelas aparências mas sermos cristãos de obras.

Diácono António