OS ÚLTIMOS SERÃO PRIMEIROS

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Reflexão à Liturgia da Palavra do XXV Domingo do Tempo Comum Ano A

A parábola dos operários da vinha, como a parábola do filho pródigo, são a revelação do amor misericordioso. Deus quer salvar todos os homens. Mas os fariseus não compreendiam. E nós compreendemos?
Quando pensamos um pouco a sério na nossa vida, uma das primeiras perguntas que eventualmente nos possa ocorrer é esta: “Para que estou aqui na terra? Qual o sentido e a responsabilidade da minha vida? Aquele que enterra a cabeça na areia e se recusa a pensar nisto, é como alguém que se senta ao volante de um carro e fecha os olhos, ao mesmo tempo que carrega no acelarador para conduzir a toda a velocidade.
Na Liturgia da Palavra deste XXV Domingo do Tempo Comum ano A, o Senhor ajuda-nos a encontrar uma resposta às nossas inquietações.
A primeira leitura é tirada do livro de Isaías 55, 6-9. O profeta Isaías, neste texto chamado da Consolação, pede aos judeus exilados em Babilónia e a todos nós, que tenhamos confiança em Deus e peçamos-Lhe ajuda, porque Ele está sempre disponível para nos ajudar.
A todos os que são tentados a pensar que o Senhor os abandonou, o salmo de meditação dá certeza que Deus nos atende sempre. Nunca pensemos que Deus não nos atende, porque “O Senhor está perto de quantos O invocam”. Para Salmo Responsorial, a Liturgia propõe o salmo 144 (145),
2-3.8-9.17-18.
S. Paulo na Carta aos fiéis da Igreja de Filipos, comunica o seu amor ardente por Jesus Cristo e deseja que Ele seja glorificado no corpo e na vida do apóstolo dos gentios. Resume os seus sentimentos numa frase imortal: “Para mim, viver é Cristo e morrer é lucro”. A segunda leitura é extraída da Epístola de S. Paulo aos Filipenses 1, 20c-24.27a. O) trabalho da vinha consiste em viver a sua vida. Comportando-nos de maneira digna do Evangelho faremos um trabalho frutuoso. Para isso temos de confrontar critérios e opções à sua imagem e semelhança, morrendo para os nossos egoísmos e preferências.Vai Jesus Cristo connosco na mesma luta, suportanto o peso do dia, do calor ou do frio. Jesus Cristo vive connosco na Igreja, reserva de amor que deixou entre as pessoas. O lucro inesperado, para além de toda a justiça, é Jesus Cristo que se nos dá.
A Palavra de Deus é viva e exigente, pois ensina-nos o caminho do Céu, mas ao mesmo tempo enche-nos de conforto e alegria. “Ide vós também para a vinha”, disse o dono da vinha ao convidar trabalhadores para a sua vinha, como nos narra a passagem evangélica deste Domingo, respingada do Evangelho segundo S. Mateus 20, 1-16a. Convidou os primeiros, o Povo de Israel e convidou os últimos, o novo Povo de Deus. Não obriga, mas contrata. Os da última hora são aqueles que ninguém contratou, como Zaqueu e o bom ladrão, publicanos e pecadores. Trabalhar na vinha é trabalhar pelo Reino de Deus em nós e nos outros, fazer a sua vontade. Não há privilégios, porque todos fomos contratados pelo amor misericordioso. Nós somos a solicitude de Deus, que nos contrata pelo denário inesperado do seu amor infinito. O serviço a prestar é a pobreza improdutiva de aprendizes do amor que nós somos. Como paga imerecida ao fim do dia, dá-nos um Reino por herança. O amor urge a toda a hora e faz-nos erguer para ir ao encontro dos outros. Quem muito ama, muito madruga. Por isso “saiu muito cedo”.
“Ou serão maus os teus olhos porque eu sou bom”. (V. 15b). Quem não é capaz de amar, escandaliza-o o amor. Os operários da primeira hora não se queixam do salário, que era justo. Não reclamam injustiça, mas protestam contra o amor. Por isso pecaram contra o amor, mordidos de inveja, querendo impor limites ao coração de Deus.
Mas o amor de Deus ultrapassa todas as normas e exigências da justiça. Deus não cumpre regras, mas ama. A sua regra é amar. Não deve nada a ninguém; a sua única dívida é amar. Não se dá porque nos deve, mas porque é bom. A essência de Deus consiste em dar-se. À semelhança de Deus, só aquele que ama se sente servo do seu irmão e capaz de dar tudo. Os outros dão por conta e medida. Nas contas de Deus não cabem arbitrariedades, mas amor. Amou os primeiros tanto como os últimos. “Amigo, em nada te prejudico”.
“Assim, os últimos serão os primeiros e os primeiros serão os últimos”, remata o Evangelho. O amor de Deus é desconcertante. Sobre as nossas previsões e pensamentos domina a bondade soberana de Deus, que actua como quer. Nos domínios do Pai, o amor gratuito é lei. São os seus dons que Deus coroa em nós (Epístola de S. Paulo aos Efésios 2,8). “Os meus pensamentos são diversos dos vossos” (1.ª leitura). A nossa justiça condena, mas o amor de Deus perdoa.
Os pensamentos do cristão regulam-se pela óptica do Evangelho, mais do que qualquer “declaração dos direitos do homem”. Só à luz do Evangelho se pode ver a pessoa na sua dimensão total. Quem recusa ver na pessoa um irmão ou uma irmã, não partilha das vistas de Deus. Deus não conta por números ou por horas. A sua medida é o amor. Mil anos são como um dia e há momentos que valem eternidade.
A Bem-aventurada Virgem Santa Maria nos ajude a acolher na nossa vida a lógica do amor, que nos liberta da presunção de merecer a recompensa de Deus e do juízo negativo sobre os outros.

Diácono António Figueiredo