É GRANDE A TUA FÉ!

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Reflexão à Liturgia da Palavra do XX Domingo do Tempo Comum Ano A

Jesus Cristo veio salvar todos os homens. A sua missão terrestre ficou limitada no espaço e no tempo, mas a missão universal continua na Igreja até ao fim do mundo.
Deus quis fazer de entre os judeus e gentios um povo de filhos, nação santa. Já a Lei e os profetas anunciavam o novo templo de Deus, como “casa de oração para todos os povos” (refere a primeira leitura). Em Jesus Cristo, Servo de Yavé, põe as naçoões a sua esperança (Isaías 42,4). Nasce a fim de usar de misericórdia para com todos. (2.ªleitura). Morre para congregar na unidade os filhos de Deus dispersos (João 11,52). No momento da despedida confia aos Apóstolos a missão suprema: “Ide e fazei que todas as nações se tornem discípulos” (Mateus 28,19).
Depois de termos celebrado na passada terça a mais perfeita realização da fé em Maria, somos convocados mais uma vez neste Domingo, a louvar e a engrandecer a fé de uma mulher, de uma mulher estrangeira. Nela o Senhor desafia-nos a acolher e a escutar o grito dos mais pobres, dos excluídos, dos estrangeiros, de modo que o mundo se torne verdadeira casa comum e a Igreja Casa de Oração para todos os povos. Confiemo-nos desde já ao Senhor que usa de misericórdia para com todos.
A primeira leitura, tirada de Isaías 56, 1.6-7, revela que a salvação se destina a todos os homens e mulheres que aceitarem o convite para integrar a comunidade do Povo de Deus. Nesta leitura, o profeta fala-nos do convite amoroso que Deus faz a todas as pessoas para pertencerem ao seu povo.
O Salmo Responsorial deste Domingo, salmo 66 (67), 2-3.5.6.8, recorda-nos o desejo de Deus de abençoar todas as nações. É também um convite à missão e à divulgação do amor divino além das fronteiras.
A segunda leitura, da Epístola de S. Paulos aos Romanos 11, 13-15.29-32, sugere que a misericórdia de Deus se derrama sobre todos os seus filhos, mesmo sobre aqueles que como Israel, rejeitam as suas propostas. Deus respeita sempre as opções das pessoas; mas não desiste de propor, em todos os momentos e a todos os seus filhos e filhas, oportunidades novas de acolher essa salvação que Ele quer oferecer. Porque Deus só quer a salvação dos seus filhos, não se deixa vencer pelas nossas misérias. Até se serve delas por vezes, para que nos resolvamos a voltar aos caminhos do amor, beneficiando da sua Misericórdia.
No Evangelho, face à grandeza da fé da mulher cananeia, Jesus oferece-lhe essa salvação que Deus prometeu derramar sobtre todos os homens e mulheres sem excepção. Esta verdade continua actual para nós. “Senhor, Filho de David, tem compaixão de mim” diz a mulher cananeia a Jesus na passagem evangélica deste Domingo, tirada do Evangelho de S. Mateus 15, 21-28. Uma mulher cananeia respondeu ao apelo em altos brados. Vem juntar-se ao grupo dos gentios que sairam ao encontro do Filho de David: os Magos, a Samaritana e o oficial de Cafarnaum. São os dianteiros do grande cortejo, os que abrem caminho ao novo Povo de Deus Já não há judeus nem gentios, mas um só Povo, comendo as migalhas do mesmo pão, para formar um só corpo. A Igreja responde hoje no mundo ao apelo de todos os gritos, acolhe em seu seio todas as pessoas, sem privilégios nem classes. Há filhos de fora, corações rectos, que sob a acção do Espírito pertencem também ao único Povo de Deus. Na economia da graça há portas que não sabemos.
“Mulher,é grande a tua fé.”, diz Jesus à cananeia. Para entrar no Povo de Deus, a condição é acreditar em Jesus Cristo. Não valem os privilégis ou ideologias. Todos aqueles que acreditam são raça de Abraão, povo escolhido para herança de Deus. Pela fé entramos na intimidade de Deus e nos tornamos participantes da sua mesma natureza. Já não há diferenças nem distâncias. Unidos na mesma fé, temos o mesmo Pai e Senhor. Quem mais acreditar, esse será o maior. A fé ultrapassa limites, vence barreiras.É ela que em nós triunfa e nos faz grandes.
A fé vai à frente a abrir caminhos, apressando horas. Não tinha chegado a hora, como em Caná, mas o amor anticipa-se, saltando tempos e espaços.. É o amor que obriga Jesus. Anda à mercê das nossas dores e gritos, que lhe marcam encontros e horas. A vontade salvífica de Deus não ficou ligada às nossas visões e critérios, mas tem por norma absoluta o seu amor e sabedoria. O amor está sempre na hora; é sempre tempo de amar.
“Não é justo que se tome o pão dos filhos para o lançar aos cachorrinhos”, diz Jesus à mulher. Como a fé da cananeia, também a nossa tem de ser provada, na oração humilde e confiante. Fé é “acreditar na esperança contra toda a esperança” (S. Paulo aos Romanos 4,18). Para além de silêncios e recusas, onde Deus se cala e esconde, é que a fé olha a outra face e vê o invisível.
O dom de Deus vem por entre nuvens, oculto em esperas e insistências. Quando tudo se tornar fácil e o céu sem nuvens, o invisível desaparece.
A Bem-aventurada Virgem Santa Maria interceda com a sua oração, para quie a alegria da fé e o desejo de a comunicar com o testemunho de ma vida coerente possa crescer em cada baptizado, para que Ela nos dê a coragem de nos aproximarmos de Jesus e lhe dizer: “Senhor, se quiseres, podes curar-me.”

Diácono António Figueiredo