
Reflexão à Liturgia da Palavra
do XVIII Domingo do Tempo Comum Ano A
(6 de Agosto- Transfiguração do Senhor)

Neste Domingo décimo oitavo do Tempo Comum, Ano A, a liturgia celebra a festa da Transfiguração do Senhor. A celebração da Transfiguração do Senhor é um acontecimento extraordinário na centralidade do mistério pascal de Jesus. Nesta revelação, “um pedaço de céu na terra”, os apóstolos são testemunhas por excelência: contemplam a beleza, a santidade e a glória de Jesus Cristo.
Assim, no mistério da cruz, iluminado pela glória do ressuscitado, irão compreender a fidelidade amorosa de Jesus à vontade do Pai, a novidade do seu messianismo e a sua entrega incondicional em sacrifício pascal pela salvação de todos. Esta forte experiência dá aos seus discípulos a sabedoria da cruz e a contemplação da divindade do crucificado e da Sua vitória. E tornará estes homens frágeis em audazes servidores do Evangelho e doadores de suas vidas na mesma cruz. Em cada Eucaristia somos convidados a fixar a nossa vida e missão em Jesus Cristo, em escutar verdadeiramentre o Pai que nos pede que aceitemos o Seu dilecto Filho e a acolher o dom do Espírito Santo que O torna presente e vivo.
O cristianismo depende do lugar que damos a Jesus Cristo na nossa vida. Depende sobretudo do nosso amor ao Filho de Deus, amor que torna viva e dinâmica a nossa vida de discípulos. Depende também do seguimento na loucura da Cruz, em entrega total. Sou convidado a olhar para a História da Salvação e a contemplá-la em Jesus Cristo, a quem foi entregue o poder, a honra e a realeza. A primeira leitura é tirada da segunda parte do livro de Daniel 7,9-10.13-14.
Só Jesus Cristo pode transfigurar plenamente o nosso coração e fazê-lo transbordar de alegria. O Salmo Responsorial é o sdalmo 96 (97), q1-2.5-6.9 e 12.
“Nós ouvimos esta voz vinda do Céu”, afirma S. Pedro na sua segunda Epístola 1, 16-19. Que maravilha se todos conhecessemos verdadeiramente Jesus! Assim o nosso testemunho seria audaz e convicente. O rosto de Jesus Cristo resplandece como o sol, suas vestes ficam brancas como a luz. Saiba eu descobrir a beleza de Jesus Cristo, amá-l’O de todo o coração e segui-l’O com toda a exigência da sabedoria da cruz. Saiba descobrir essa glória na simplicidade da Eucaristia, no rosto dos irmãos e na Sua Igreja e seja capz de fazer brilhar os rostos apagados. “O seu rosto ficou resplandecente como o sol e as suas vestes tornaram-se brancas como a luz”, descreve a passagem evangélica deste Domingo, tirada do Evangelho segundo S. Mateus 17, 1-9. O facto deste episódio nos ser apresentado todos os anos no segundo Domingo da Quaresma, tem um sentido para a nossa vida a ter em conta. Assim como para aqueles discípulos a Transfiguração de Jesus serviu de preparação para se confrontarem com a sua “desfiguração” na agonia do Getsemani, assim também nós temos que nos dispor com olhos da fé.
A Palavra de Deus para esta celebração usa verbos muito fortes. Um deles é o verbo ver.. Também se usa o contemplar, o olhar. É um dos sentidos fortes em nossa vida. No nosso itinerário de fé, o sentido que mais se nos pede é o ouvir ou escutar. O ver pertence mais à eternidade. Depois já não faremos mais perguntas, porque O veremos tal como Ele é. O Profeta Daniel vê sinais maravilhosos que revelam a grandeza, a santidade de Deus, que se centralizam no filho do homem, a quem foi entregue o poder, a honra e a realeza e que todos os povos irão servir. Ele vê o ponto culminante da História da Salvação. O Reino que jamais passará.
Pedro, Tiago e João são testemunhas do acontecimento que marca as suas vidas: a Transfiguração. Estes são presenteados com uma maravilhosa manifestação de Deus. Tal fica gravado nos seus corações e na sua vida e servirá para ser referência nas horas de humilhação do seu Mestre e sobretudo na morte de cruz e servirá de estímulo no anúncio/testemunho de Jesus Cristo, verdadeiro Deus e verdadeiro Homem, morto e ressuscitado. É uma história de amor verdadeiro com o selo da sua autenticidade: a cruz, fonte de sabedoria e renovação de todas as coisas. Criação nova amassada no Sangue de Jesus Cristo e no sopro pentecostal do Espírito, consequência da entrega de Jesus Cristo na cruz.
O evento da Transfiguração do Senhor oferece-nos uma mensagem de esperança – assim seremos nós com Ele – convida-nos a encontrar Jesus Cristo para estar ao serviço dos irmãos. A subida dos discípulos ao monte Tabor leva-nos a reflectir àcerca da importância de nos desapegarmos das coisas mundanas, a fim de fazer um caminho rumo ao alto e contemplar Jesus. Trata-se de nos pormos à escuta atenta e orante de Jesus Cristo, o Filho amado do Pai, procurando momentos de oração que permitem o acolhimento dócil e jubiloso da Palavra de Deus.
No final da admirável experiência da Transfiguração, os discípulos desceram do monte, com os olhos e o coração transfigurados, pelo encontro com o Senhor. É o percurso que também nós podemos realizar. A redescoberta cada vez mais viva de Jesus, não constitui um fim em si, mas induz-nos a “descer do monte”, restaurados pela força do Espirito Santo, para decidir novos passos de conversão e para testemunhar constantemente a caridade como lei de vida diária.
Na Transfiguração ouve-se a voz do Pai que diz: “Este é o Meu Filho muito amado. Ouvi-O”. Olhemos para Maria, a Virgem da escuta, sempre pronta para acolher e guardar no coração cada palavra do Filho divino (S. Lucas 1,51). Queira a Mãe de Deus e nossa Mãe, ajudar-nos a entrar em sintonia com a Palavra de Deus, de modo que Jesus Cristo se torne a luz e guia de toda a nossa vida

