TERRA BOA

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Reflectindo a Liturgia da Palavra

do XV Domingo do Tempo Comum, Ano A

Diácono António Figueiredo

Deus é semeador de maravilhas. Pelo seu Verbo encarnado fecunda a terra, como a chuva e a neve, para depois colher os frutos a seu tempo. Jesus Cristo é o grão de trigo que cai à terra e morre para dar fruto.

A Palavra de Deus é vida e acção. “E disse Deus: Faça-se”. O divino semeador vai adiante, tomando a iniciativa. Continua a semear pela acção da Igreja, semeadora de graça e de verdade, levadas pelo vento do Espírito. Quando a Palavra de Deus tiver produzido o seu fruto, voltará à nascente, cumprida a missão.. Só será plenitude e perfeita compreensão, quando se tiver cumprido em nós.

Este tempo permite-nos saborear a beleza e a riqueza da Criação, onde os Céus e a terra proclamam a glória de Deus. Somos desafiados a abrir o livro da natureza, com as mãos de um jardineiro e o coração de um poeta. Na presença do Senhor, para ficar saciados, somos também desafiados a abrir os olhos do coração à grandeza e beleza do amor e da glória de Deus e a procurar desde já, desimpedir do terreno do nosso coração tudo o que impeça de deixar frutificar a boa semente da Palavra de Deus e do Pão da Vida.

Irá Deus cumprir a sua palavra? Esta é a pergunta que enche o coração dos exilados da Babilónia e a que responde o profeta, dizendo: se alguma coisa é eficaz e não falha, é a Palavra de Deus … Ela tem em si mesma uma força divina que a torna eficaz, cheia de capacidade para qe possa produzir todo o alimento de que o homem necessita para o seu espírito. Ele cumpre a vontade de Deus. A primeira leitura é tirada da Profecia de Isaías 55,10-11. 

Com o coração vestido de festa, enaltecemos as maravilhas da criação, sabendo que a Primavera eterna já começou na vida do cristão. O Salmo Responsorial deste Domingo é o salmo 64 (65) 10abcd.10e-11.12-13.14.

A realidade do pecado marcou, não só o ser humano, mas também a criação, ou seja, as escolhas do ser humano têm consequências na criação, fazendo com que ela, participe no estado de escravatura a que ele próprio se reduziu. Mas a libertação que de Deus nos vem por Jesus Cristo, há-de estender-se a todas as criaturas e fazer como uma nova criação. Assim, todos e tudo encontrarão a unidade em Deus, por Jesus Cristo. Nestes Domingos, são respingados alguns dos mais expressivos textos da Epístola aos Romanos. Assim, a segunda leitura é um trecho tirado da Epístola de S. Paulo aos Romanos 8, 18-23.

Neste Domingo começamos a escutar o capítulo treze do Evangelho de S. Mateus, que nos apresenta as parábolas do Reino, A «parábola do semeador», ou da «semente», que vamos escutar mostra-nos que o projecto de Deus, o seu Reino, é algo que não está realizado, mas está em marcha, ele não parou … A Palavra de Deus, fonte de vida, continua a ser semeada sobre a terra imensa das pessoas e produzirá muito fruto, se essa terra for capaz de a receber. “Saiu o semeador”- Assim começa Jesus a contar a parábola da passagem evangélica deste Domingo, extraída do Evangelho segundo S. Mateus 13, 1-23. O mundo e a história são a sementeira de Deus. Escondem-se no tempo sementes do Verbo, germinando na dor e na esperança. Deus quer a salvação das pessoas e todo o mundo é terra boa dos seus cuidados. Por isso mandou profetas a preparar caminhos e chegada a plenitude dos tempos enviou o seu Filho, divina semente, Palavra de vida eterna. Não há dureza onde o Senhor não semeie. Podem os cuidados e as riquezas sufocar a palavra, mas Deus não rejeita ninguém. A nossa inconstância e falta de entandimento não impedem a mão de Deus. “Quem tem ouvidos, oiça”.

“Cairam sementes à beira do caminho”, continua Jesus a falar. Ouvir exige resposta. Resistências e contradições são o sinal de autenticidade da mensagem evangélica, a força que a enraiza e faz crescer. Porque é caminho novo e vida nova, surgem forças contrárias que a impedem de dar fruto. Caem sementes à beira do caminho, pisadas pela indiferença de quem passa. Há corações fechados pelo maligno, surdos pelo ruído das coisas e tráfico de interesses materiais.

Outras sementes cairam em ligeireza e superficialidade. Houve sinais de vida, mas por falta de alicerces na fé e na esperança, não resistiram aos primeiros sopros da tempestade. Prazeres e riquezas sufocaram à nascença a Palavra da Vida e impediram-na de dar fruto em abundância. Só uma parte da semente caiu na terra preparada pelos corações atentos e deu frutos na perseverança. Quanmdo eu for terra boa, trabalhada em suor e graça, então produzirei à minha medida.

“A Palavra de Deus não voltará sem efeito”. A Igreja é a Palavra encarnada, semente de vida nova. Por ela a palavra germina e cresce até encher os celeiros do Pai. Só então os semeadores e os ceifeiros hã-de saber deslumbrados que tudo era terra boa e nem um só grão se perdeu. Comigo ou sem mim, deu fruto na sua hora. Quando o semeador morrer e a Igreja fracassar, morre o grão de trigo para dar muito fruto. Se a seara não frutifica e a vida tarda, é porque não há quem morra.

O cristão é um optimista. Não se prende em fracassos reais, mas confia no dinamismo da graça, que tem os seus segredos e horas. A Palavra de Deus não cabe em estatísticas. Os caminhos da graça são subterrâneos e o Reino de Deus cresce por dentro. Trabalhar na fé é colher cento por um. Que a Bem-aventurada Virgem Santa Maria nos ajude a compreender e a imitar a paciência de Deus, o qual não quer que se perca nenhum dos seus filhos, aos quais Ele ama com amor de Pai.