
Reflexão à Liturgia da Palavra
do Domingo XI do Tempo Comum Ano A

Num mundo fatigado de lutas e egoísmos, a certeza de que alguém nos ama, alegra e reconforta. Andam as pessoas cansadas de tantas buscas e esperas, correndo por ilusões e caminhos falsos, como ovelhas sem pastor. Passos perdidos, projectos desgarrados cobrem os corações de lutos e desesperos. A tragédia de homens e mulheres consiste em ter perdido a razão de viver. Na seara de dores e desenganos faltam ceifeiros. Para quem quer amar a seara é grande.
O povo eleito de Israel é uma prefiguração da Igreja Católica, sendo esta última universa, porque Jesus que a fundou assume a natureza humana para salvar todos os homens. “Vós sereis para mim um Reino de sacerdotes”, palavras que o Senhor Deus dirige a Moisés, relata a primeira leitura tirada do Livro do Êxodo 19,2-6a. Com a Igreja e os Apóstolos, também o cristão é escolhido e enviado, Todo o povo de Deus é sacerdócio real, nação santa (1.ª Epístola de S. Pedro 2,10; Apocalipse 5,10). Formamos um só povo sacerdotal, onde há diversidade de membros e de funções. O cristão, pelo seu sacerdócio real, é um consagrado de Deus, separado do mundo para orar, ensinar e oferecer sacrifícios. Vive na intimidade de Deus, transformado em sua herança e propriedade exclusiva. (1.ª Epístola de S. Pedro 2,9).
«Ele nos fez a Ele pertencemos». Vimos e somos de Deus e para Ele nos dirigimos. Para este Domingo a Liturgia propõe para Salmo Responsorial o Salmo 99 (100) 2.3.5.
O próprio Deus feito homem, dignou-Se, por Amor, entregar a Sua vida derramando o Seu Sangue por nós para nos reconciliar com Deus e nos guiar na Sua Igreja peregrina à santidade do Céu. Na segunda leitura, tirada da Epístola de S. Paulo aos Romanos 5, 6-11, o Apóstolo pretende fazer ver que o Amor de Deus garante ao homem justificado a firmeza da esperança da salvação eterna. Esta esperança é certa, não ilusória.
Vivamos sempre na fidelidade à revelação e à tradição apostólica, procurando sempre a unidade ao Santo Padre, sucessor de Pedro e aos Bispos a ele unidos, os sucessores dos Apóstolos. “Jesus ao ver as multidões, encheu-Se de compaixão”, relata o princípio da passagem evangélica deste Domingo, tirada do Evangelho de S. Mateus 9, 36-10,8. Jesus olhou a multidão faminta e fatigada, fixou a seara abundante, que no seu coração se estendia até aos confins do tempo e das pessoas. Só Deus nos fixa sem desviar o rosto. A piedade de Jesus Cristo assumiu toda a amargura e miséria humana, reconciliando-nos com o Pai pela morte na cruz, quando éramos inimigos e pecadores (da Epístola de S. Paulo aos Romanos na segunda leitura). O Cordeiro imolado tornou-se o único Pastor. Reunidos à Sua voplta, já não haverá mágoas nem fadigas e entraremos no seu repouso. Já não seremos ovelhas desgaradas, mas remidos e salvos pelo clamor do Seu Sangue.
“Depois chamou a Si os Seus doze discípulos”, narra o Evangelho. A escolha dos doze é a expressão e exigência da piedade de Jesus Cristo. A piedade de Deus precisa das pessoas. Por isso Jesus Cristo fundou a Sua Igreja com o encargo de apascentar e fazer discípulos de todos os povos. A Igreja é a divina compaixão de Jesus Cristo entre as pessoas, o olhar piedoso de Deus, pastoreando o rebanho. Nela entra toda a pessoa por mais longe que esteja (Actos dos Apóstolos 2,39), para formar o novo Israel de Deus. O amor abriu-nos a porta, abatendo muros e fronteiras. Pelas mãos da Igreja continua hoje o Senhor a lançar a semente que amadurece ao sol do Espírito.
“Jesus enviou estes doze”, diz o Evangelho. Chamou-os para os enviar como pastores das doze tribos do novo Israel. À tarefa provisória sucederá a missão definitiva, quando forem investidos como testemunhas da Ressurreição. A missão da Igreja é a unidade no amor ao mundo em missão de proclamar que o Reino de Deus está perto. A Igreja é a presença de Deus entre as pessoas. Curar doentes, ressuscitar mortos, são sinais que O anunciam e fazem crescer. A Igreja santifica as pessoas na verdade, pela graça dos sacramentos, sinais sensíveis e eficazes do Reino que chegou. Ilumina sentidos, , ressuscita esperanças, revelando a todos a verdadeira vida. Na vida de na missão da Igreja, dar e receber, cruzes e perseguições, tudo é graça.
A Eucaristia é chamamento e missão. Aqui nos reuniu o Pastor feito Cordeiro para saciar à sua mesa os nossos desalentos e fadigas. Vamos ao mundo ser pão, porque a fome aperta e a messe é grande.
A Bem-avuventurada Virgem Santa Maria, modelo de confiança e abandono em Deus na hora da adversidade e do perigo, ajuda-nos a nunca ceder ao desânimo e a confiar sempre n’Ele e na Sua graça, porque a graça de Deus é sempre mais poderosa do que o mal.

