
Reflexão à Liturgia da Palavra
do X Domingo do Tempo Comum – ano A

Mateus levantou-se e seguiu Jesus. Bastou uma palavra para lhe mudar a vida. Era publicano, pecador confesso, mas foi à sua porta que Jesus parou, arriscando o prestígio, desafiando a cólera dos justos. Também nós queremos sentir-nos pecadores, para sermos chamados como Mateus. Na festa dos pecadores queremos ter lugar cativo. Os que se julgavam perfeitos e desprezavam os outros não tiveram lugar à mesa.
O problema da nossa salvação é o mais importante que temos a resolver na vida. É mesmo o único que verdadeiramente merece o nome de problema. Da sua solução depende a sorte eterna de cada um. Como o devemos levar mesmo muito a sério! Como é importante seguir sempre o caminho que conduz à sua feliz solução! As leituras da Missa de hoje são bem claras ao indicar-nos o caminho que para tal solução devemos seguir.
A primeira leitura é da profecia de Oseias 6,3-6. Oseias, depois de comparar a Aliança de Yavé com o Seu Povo à de um matrimónio, classifica de adultério as infidelidades a essa mesma Aliança. Mas proclama solenemente a misericórdia do Senhor e o nosso dever de a imitar. “Eu quero a misericórdia e não os sacrifícios”, diz o Senhor. Jersus veio mudar os nossos critérios e dar à Lei uma interpretação libertadora, decretando o primado do amor sobre ritos e deveres cultuais. O sacrifício novo a celebrar é o amor misericordioso. Celebra-o primeiro na doação da cruz e renova-se toda a vez que eu perdoo ao meu irmão. O amor crucificado, o de Jesus Cristo e o nosso, aboliu para sempre velhos cultos e formas. Agora o único sacrifício que salva é fazer-nos obedientes até à morte . Conhecer a Deus e amá-l’O vale mais que todos os sacrifícios.
Deus que nos chama à conversão, pede-nos que a sinceridade interior acompanhe as nossas acções externas. Disto nos dá conta o Salmo Responsorial que a Liturgia propõe para este Domingo, Salmo 49 (50) 1.8.12-13.14-15.
Tal como Abraão, , não faltarão na vida dos crentes situações que os provocam a pôr toda a sua confiança no Senhor. A segunda leiura é tirada da Epístola de S. Paulo aos Romanos 4, 18-25. S. Paulo, para documentar que o homem se torna justo, não pela prática da lei judaica, mas pela fé, apela para a fé de Abraão, insistindo em que foi esta que o tornou grato a Deus.
Seguir os caminhos apontados por Jesus é caminhar com segurança nos caminhos da vida. Vale pois deixar tudo para os seguir. “Não vim chamar os justos mas os pecadoes”, diz Jesus na passagem evangéica deste Domingo, tirada do Evangelho de S. Mateus 9,9-13. Jesus veio chamar os pecadores. “Salvará o seu povo dos seus pecados” (Evangelho de S. Mateus 1,12). Trazia inscrita no seu nome a tarefa a realizar: “Yavé salva”. Toda a Sua obra consistiu em chamar os pecadores, curar as feridas do pecado. Pecadores não significa uma classe, mas todo o ser humano marcado pela desobediência de Adão. Quem não se entir culpado, necessitado de conversão, não tem Jesus Cristo por Salvador; terá ainda de esperar por outro. Se não nos reconhecemos pecadores, Jesus Cristo não veio para nós.
“Não são os que têm saúde que precisam de médico”, esclarece Jesus no Evangelho. A multidão dos que seguiam Jesus Cristo sofriam do corpo e da alma. Deixaram-se seduzir pela promessa dum Reino, onde toda a dor se mudaria em alegria e todas as fomes seriam saciadas. Ficarão de fora todos aqueles a quem tudo corre bem e se comprazem nas suas virtudes, os que não são como os outros. Só pecadores e doentes precisdam de remédio. Não há alegria do perdãosem a dor de ter pecado.
Jesus Cristo é o rosto misericordioso do Pai. Deus chama-se misericórdia. É o seu nome próprio, o melho que sabemos. Deus ama-nos perdoando e deste modo se nos revela amor. Quando Deus entra na nossa História é para nos oferecer o seu perdão. Perdoar é a festa que alegra o coração de Deus. Nada mais quer, nada O alegra tanto. Perdoar e ser perdoado é a alegria de Deus e das pessoas. “Alegrai-vos comigo!”(S. Lucas 15,6).
Todo o cristão é um convidado para o banquete dos pecadores. A Igreja de Jesus Cr5isto introduz-nos na festa, chamados pelo amor misericordioso. A fé nasce da resposta ao amor que perdoa e se nos dá. Não se alimenta de fórmulas, mas de amor. O cristianismo não é casta de perfeitos e impecáveis, mas assembleia de pecadores arrependidos. Somos pecadores em festa, alegres porque o Senhor nos escolheu e perdoou. A fineza do cristão está em reconhecer-se pecador. Por isso não marginalizamos ninguém e abrimos o coração a todos os marginalizados do amor e da vida. Não queiramos ceder à tentação da obsdervância fácil, que nos desobriga do amor muisericordioso. Temos de aceitar, tal como Jesus Cristo, o risco da incompreensão, custos da Lei nova que Ele nos veio ensinar.
Que nos pede hoje a Mãe do Céu? Pede-nos para irmos com Ela ao encontro da criança maltratada, do jovem desiludido, da mãe que não é amada, do pai cansado do trabalho, do idoso que não quer ser colocado à margem. A Mãe de Deus e nossa Mãe traz-nos uma mensagem de paz e de esperança que a todos dará de novo a alegria de viver.

