A BOA NOVA

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Meditando a Liturgia da Palavra da Santa Missa do Domingo de Páscoa

Celebramos hoje a Páscoa da Ressurreição do Senhor, a celebração litúrgica donde nasceram todas as outras. A Ressurreição do Senhor era o grande sinal, a grande expectativa. Já era o terceiro dia, já os insensatos e lentos de coração se cansam de esperar. Chegou a hora. “A paz esteja convosco”. E se não é verdade? E se temos de esperar por outro? “Sou Eu! Não temais!” – sossega-nos Jesus.

A Páscoa cristã é a Festa. Todos fomos convidados para o banquete, vindos de longe, por caminhos de graça. Páscoa é a festa da divina economia, onde as dívidas se pagam a preço de sangue. Páscoa é a festa do amor crucificado que dá a vida por amor. Páscoa é a festa da alegria, posse de nova terra, comunhão de novas gentes.

A primeira leitura é dos Actos dos Apóstolos 10, 34a.37-43. Em casa do centurião Cornélio, na cidade de Cesareira à beira mar, Simão Pedro, onde foi enviado pelo Espírito Santo, dá um vibrante testemunho sobre a Ressurreição de Jesus.

O Espírito Santo convida-nos, pelo Salmo Responsorial (Salmo 117 (118) 1-2.16ab-17.22-23) a exultar de alegria pela Ressurreição do Senhor. Que a alegria e o canto deste salmo brote do mais íntimo do nosso coração como homenagem a Jesus ressuscitado.

Na segunda leitura, da 1ª Epístola de S. Paulo aos Coríntios 5, 6b-8, somos convidados a uma grande pureza de vida, digna de quem segue a Cristo ressuscitado.

O Evangelho desta solenidade é de S. João 20, 1-9. S. João começa com a verificação do túmulo vazio, feita por Maria Madalena, mas vão ser os dois discípulos, que vão fazer o reconhecimento do local e que verificam indícios eloquentes, aptos para levarem à fé na Ressurreição de Jesus.

A Ressurreição de Jesus é mistério difícil, que só na fé se aceita, envolta em sinais. Uma pedra revolvida nos atrai, faixas abandonadas nos interrogam. Jardineiro no horto, caminhante de Emaús, pescador no lago, são os disfarces da fé em que Cristo se esconde para O podermos ver e tocar. O Cristo ressuscitado é o Cristo da fé, inaugurando a ordem nova e o estilo novo das suas relações pessoais. “Não me detenhas” – Evangelho de S. João 20, 17. Há um véu novo, que se interpõe entre nós e Ele, véu de graça e de verdade. O antigo rasgou-se. Por isso os discípulos duvidam sempre. Ninguém se escandalize. Também uma dúvida pode ser amor. “Não ardia o nosso coração?” .- Evangelho de S. Lucas 24,32.

A Ressurreição é mistério de paz e alegria. “A paz esteja convosco”. Há um mistério de gozo a envolver os discípulos, presença visível e fruto do Espírito Santo. O Espírito do Pai e do Filho foi o presente pascal de Cristo à sua Igreja, o dom que nos trouxe do Pai. – Evangelho de S. João 20,22. Paz e alegria são o novo estilo de viver, aprendido no Senhor ressuscitado. A alegria nasce da cruz. Supõe renúncias e subidas, varrer a casa primeiro. Vive do outro lado do sofrimento, à margem de ruídos, desabrochando em sorrisos e optimismo cristão. A alegria é o rosto de Deus que ficou enhtre os homens. A Ressurreição é mistério de amor. Ardem os corações em pressa de comunicar-se. Tudo acontece a correr naquele dia de Páscoa. Correm as mulheres e os discípuos a levar aos outros a Boa Nova, corre Cristo ressuscitado, amando e consolando. É o amor que nos ressuscita e liberta. A grande pressa é amar.

Páscoa é a alegre notícia do amor partilhado. “Vai dizer a meus irmãos”. – Evangelho de S. João 20,17. Quando eu amo o meu irmão, há sempre um túmulo que se abre, um coração que revive. O mistério pascal envia-nos ao mundo em ressurreição permanente. No gesto de partilhar é que eu e os outros O podemos reconhecer. Os discípulos de Emaús só reconheceram o Senhor, quando repartiram com Ele o seu pão. Os irmãos são o caminho mais certo e mais curto, por onde Cristo nos aparece. A graça pascal está em dar gozo aos meus irmãos, fazer os outros felizes. É ofício de consolar que aprendemos de Cristo. Serei anjo de consolação na medida em que for, na medida em que me der. Com Maria, alegremo-nos na Ressurreição de Jesus e procuremos imitá-l’O.

O Senhor ressuscitou verdadeiramente! Aleluia! Aleluia!

Diácono António Figueiredo